"A arte é um jeito que o ser humano tem
de resgatar sua própria grandeza oculta"

André Mauraux"


Este espaço tem como objetivo (re)criar a arte através da apreciação e reflexão desta em suas várias formas e expressões, fomentando o encontro poético entre seus membros.
Façamos da arte do encontro nosso grito poético, fazendo ouvir a nossa voz em uníssono, tranformando a palavra em verbo.
O grupo terá temas semanais, que serão postados sempre aos sábados e terão a duração de uma semana. Esses temas serão publicados no blog , no grupo e na página do facebook.
Todas as formas poéticas serão bem vindas.
As postagens que não se refiram ao tema da semana serão bem vidas, mas só utilizaremos para a publicação no blog, as que estiverem em consonância com o tema proposto.

Sejam bem vindos!
Namastê!!!!

sexta-feira, janeiro 13

XVI - Um Grito ao Som da Loucura



Começamos o ano com um grito especial.
Durante três semanas iremos dialogar poeticamente sobre a loucura.

A cada semana convidaremos os amigos a dialogar sobre um artista que em seu tempo foi dado como louco por seus pensamentos e atos não convencionais.

Nesta primeira semana convidamos os membros do Grupo Grito Criativo a dialogar ao ritimo da loucura e selecionamos os seguintes artistas:

- Lou Reed

- Sid vicious
- Mozart
- Bethoven
- Raul Seixas
- Arnaldo Antunes

Segue o resultado dessa linda troca poética:




*


"Pra se criticar um rato, de rato você tem que entender." 
(Raul Seixas)

Setas do julgamento

Ao ouvir tua voz, grito
não suportando tamanho absurdo
choro, nesto sorriso mudo
de ver este esforço aflito
alcançar-me sem brio
em tamanha torpeza
jugo que carrega nos ombros
acreditando ser nobreza
neste olhar estou por um fio
pois não vê a loucura que te cega 
louco egoísmo ... vil
nessa vaidade insana que ...
... "em" e "a" Ti, carrega.

(Kátia de Souza) 

***


♫ Basta ser sincero e desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo! ♫
(Raul Seixas)

Bailando no Ar

Recomeçar
esquecer os erros
fazer diferente
ser resistente
persistente!
Novos rumos traçados
mesmo com pés cansados
agarrar com unhas e dentes
esse vida, essa luz
esse amor incandescente
desejado, reluzente!

(Rafael Jr)

Inspirado na música 'Tente Outra Vez' (Raul Seixas)

*

Repetir a música preferida

Fotografar flamboyants
Rabiscar a bico de pena

Mostrar agrado ao amigo
Rir largo de tolices

Esculpir em nuvens o ser amado
Pintar de amor o seu retrato

Encontrar o cabritinho fugido
Espiar o pássaro no ninho

Beijar de jeitinho
Fazer amor nesta tarde

Descobrir no pincel mais do verde
Que nos deu Papai do céu

Reunir os amigos num abraço
Emocionar com suas poesias

Acariciar a viola tempos esquecida
Gemendo tímida até cantar bem polida

Há que se ter tempo de enterrar
Sob terras molhadas de lágrimas

Os pés bem firmes pisar
Para então, tudo de novo recomeçar.

(Andrea Lizarb)

Diálogo Poético com Rafael Jr no poema Bailando no Ar


***

DE FELIZ E LOUCO

Há que ser co-autor
Há que ser um tanto erradinho
Há que ser de risco
Quase nada certinho
D’a vida ser inovador
De aventura fluir, por nadinha fugir
Da eiva o rabisco
Sem apagador nem juiz
Há que ser um tanto louco
Há que ser temperado
Em tudo um tanto apimentado
Nunca, jamais ser pouco
Quem não arrisca, risca
O atrativo de si
Quem se atreve
Escreve na neve e segue leve
Há de ser delirante
Prá poder seguir adiante
Ser quiçá interessante
Bem aventurado e radiante
O prudente é desenxabido
Nem com ele esta contente
Enquanto o louco apraz à gente
Não apaga seus rabiscos do canhoto da vida

(Andrea Lizarb)

Inspirado em Maluco Beleza (Raul Seixas)

***
O que é locura se dito que, se existe em nosso psiquismo então não importa na verdade 
de onde surge?
O que importa é que la se encontra
Se o pernsamento é criador, quao rico é o penamento do "louco"?
Do louco de amor
Do louco pela arte
Do Louco pela aventura
Então, e o de quem, por sua vez nao encontra-se em ninguem,
Por ser tão unico como ele só 
Então isso seria a loucura?
Amamos os loucos
Amamos a loucura 
Por que ela é franca e forte 
E pulsa la no fundo de nossas almas
Embaixo da saia da razão
Esta sim deveria ser considerada uma loucura
Visto que, onde predomina extingue completamente o ser.

(Cristiane Lawall)

***

Músico que filosofou uma vida solitária, sempre entre a multidão. 
Combinou como ninguém a sensação do que o rodeava, com a genialidade de inventar melodias com mensagens únicas, gritos de sua dita (in) sanidade, agraciada por alguns seguidores, ainda hoje seus fãs.
Raul Seixas olhava de maneira diferente, sentia o que muitos dificilmente poderão sentir, daí, ter vivido entre a multidão a maior das solidões. Sua hábil capacidade de esmiuçar o pormenor, o invisível, aos olhos dos ditos comuns, o catapultou para um estágio de “pessoa diferente”, o que lhe causou transtornos psico-sociais.

Este “personagem”, subtilmente dá voz a uma visão caótica e desprovida de regras, estratos ou religiões e nela vislumbra caminhos, possibilidades e lógicas naturais, em suma uma sociedade mais sã.

Neste epílogo dramático, sua existência ainda que publica e aplaudida, esvai-se num triste fim, característico entre os ditos “incompreendido pensador”.

(Ana Paula)

***



MALUCO BELEZA

Esse baiano arretado
desde menino inquieto
matava a aula na escola
viajando na loja de discos
ouvia Fats Domino, Chuck Berry
mas tinha em Elvis seu ídolo
grande e excêntrico maluco beleza
sábio na sua "loucura" sã
não procurava respostas
perdido olhando pro espaço
em seu Plunct, plact ,zoom
fazia a vida acontecer
"pare o mundo 
que eu quero descer"
era que nem borboleta
preferia ao casulo, o vôo livre
uma metamorfose ambulante
cavaleiro errante na vida
nascido a dez mil anos atrás
a mosca na sua sopa
o prego no seu sapato
o soco no seu estômago
queria revirar sua cabeça oca
com suas novas idéias
e viva a sociedade alternativa
"faça o que tu queres,
pois é tudo da lei"
o amor livre, sem ciúme 
pois o grande segredo da vida
aprendeu com as pedras
nascemos e permanecemos sós
então, nunca desista da vida
tenha fé e sempre tente outra vez.

(Ianê Mello)

***


TREM DE ARAQUE

É bom mesmo que você pense
Que eu não pertenço a você
Dizendo que eu não presto mesmo
Que eu posso partir quando quiser
Como a areia no piso do banheiro
Eu fica indo embora aos poucos
Nos desamores que aprontei sozinho
Eu não estou para o que der e vier
Eu nunca perdi o medo do escuro
Só não tenho medo da chuva
Sei que a chuva é algo fantasmagórico
Que evapora da terra para o ar
Nunca aprendi segredo nenhum
Pois a vida imita o jornal de ontem
Noticias que choram sozinhas
No mesmo lugar de sempre
Eu não posso mesmo entender
Com tantas lorotas impressas
Disseminadas como pulgas
Nos colchões de ricos e pobres
E em todos os cães do universo.

(Beto Palaio)

***


Os Loucos

Os normais se sentam e se levantam.
Os loucos também.
Os normais fingem, os loucos perambulam.
Os loucos reconhecem que uma pedra fala.
Os normais, alguns até se assustam ao desejar a flor.
Os loucos bebem a flor e a exalam.

(Madhu Maretiore)

***
REPENTE MALUCO

Poetas peço licença
Por não saber versar
Mas minha demência
Autoriza-me a cantar

Canto as delícias do amor
As rosas p’ra namorada
O riso do cantador
Nos braços da sua amada

Canto a criança que brinca
E delira com seu feito
Um, dois, quatro ou trinca
Tabuada sem preconceito

Canto o pássaro que voa
Sobre um lindo jardim de flores
Trazendo a vida à toa
Num arco-íris de cores

E no final desse repente
Escrevendo no céu a giz
Mostrando a toda gente
Meu nome – Louco Feliz!

Sidney Santos

 ***


"Eu Não sou louco é o mundo que não entende minha lucidez..."
(Raul Seixas)

" ... Sou a Lucidez ... Reconhece-me? ... "

... Vazio os olhos de quem nos vê
... fechada a boca em mudos versos
... na distância de quem nos toca
... abismo insano em indiferenças
... razão gritada por todos os lados
... lucidez descabida palavra torta

(Kátia de Souza)

***


Gente - Raul seixas
  
"... Do insano descabido em Nós neste amar racional, resta-nos o insano descabido medo de amar em Si ... Sempre querer e nada ter e jamais sentir ... O doce prazer do Amor Real ... "

(Kátia de Souza)  

***


♫...Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez...♫
(Raul Seixas)

Maluquez

Certo é o que pensam?
Errado é o que dizem!
Certo é o que vêem?
Errado é o que imaginam!
Certo é o que falam?
Errado é o que ouvem!
Certo é o que desejo
o que EU sonho
o que me dá prazer
que me faz delirar
me faz rir sem motivo, e
chorar de alegria
que me faz arder
suspirar
gemer
gozar...
Certo é o que me faz feliz
poder acordar satisfeito, e
ter certeza do caminho que escolhi
com riscos sim, mas um aprendiz
de um amor lindamente louco,
que eu sempre quis!

(Rafael Jr)
Inspirado na música Maluco Beleza (Raul Seixas)
***




PORTA FECHADA

Eu grito
grito para as paredes
que não respondem
grito para ouvidos
que são surdos...

entre quatro paredes
aprisionada
sem janela para respirar
e uma porta fechada
um corpo fechado
na dor de ser

grito...
um grito sentido
um grito catártico
um grito de dor
um urro animalesco

mas a porta fechada
não se abre
...
meu grito não será ouvido

longe de tudo
longe de todos
tão longe que nem sei
aonde eu estou
longe até de mim mesma
do que em mim reconhecia
nisto em que me tornei

- SOCORROOO!!!!!!!!!!!!
Preciso que me escutem!

não, ninguém pode escutar
todos estão muito longe
todos estão alheios 
dentro de si mesmos
... encimesmados

Grito, grito, grito...
até calar minha própria voz 
que vem de dentro
até gastar as palavras...

Grito até perder a voz

mas todos estão tão longe
você está tão distante
sequer me vê
tampouco me ouve

mas grito mesmo assim
o que me resta
além do grito?

essa angústia no peito
essa dor que me consome
essa vida que não me vale?

Porque continuar a luta
porque acreditar
em que acreditar
em quem?

Meu grito ecoa
grita dentro de mim
reverbera em meu corpo
ensurdece a mim mesma
mas em vão...

...

ninguém escuta...

meu grito se vai 
no vento
em parte fora
noutra parte dentro
em mim

são palavras vazias
que se perdem 
no silêncio
que me devora

...

me encolho num canto
entre quatro paredes
sem janela para respirar
e uma porta que permanece fechada

uma lágrima escorre 
sobre minha face
sinto seu gosto
em minha boca entreaberta

...

me calo.

(Ianê Mello)

Inspirado na música Meu Coração (Arnaldo Antunes)
( Fotografia de Pavel Mirchuk)

*

Gritos, podem ser de dor, de desespero, de medo. mas eu prefiro os gritos de amor:

Gritos de amor
Que por vezes são de dor
Pois amar, mais que tudo
É … se dar
Mas dar por inteiro
Ao seu parceiro.

É renúncia
Que mais que tirar
Acrescenta
Pois ao dar amor
Seu amor aumenta
É confiar
Porque amor sem confiança
Não tem esperança
E sem ela, nada se alcança
Se o amor prende
O amor liberta
Pois a chama se acende
Nos queima e ascende
Ao mais alto de nós
O amor é tão puro
Que nos mostra o futuro
de forma risonha
Pois quem ama… sonha

E tal como a semente
Que se lança no campo
O amor tem encanto
Se da semente nasce
Um fruto, uma flor
Pois até isso é amor
E ao renascer liberta
E na medida certa
É a coisa mais pura
Pois ele até nos cura
Nos salva e nos leva
A uma completa entrega
Que não é escravidão
Mas sim doação
Que nunca é mentira
Ele nos dá mais que tira
Pois quanto mais damos
Mais dele nos dão
E vem a paixão
E vem o encanto
E por isso MEU AMOR
eu te amo tanto !

(Joaquim Vale Cruz)  

Diálogo poético inspirado em poema "Porta Fechada" de Ianê Mello)

*

Responda-me!

Gritarei, esbravejarei, prantearei, ecoarei através do futuro:
Não, você ainda não terá coragem de enxugar meus prantos!
Ficaremos como duas crianças sentadas separadas no escuro?
Precisarei guardar retratos de nossas almas ainda em cantos? 

Serei seu eterno desatino de ontem que prosseguirá impuro?
Serei a eterna dançarina de um cabaret parvo de sentimentos?
Por mais prematuro o apego a você, foi tão puro, forte, eu juro!
Que importa a dor se lágrimas estéreis jamais merecerão alentos?

Vá! Siga sua trilha! Fechar-se-á sobre sua desventura?
Esquecerá a raiz que plantamos em terra profana?
Ou se rasgará de agonia sem ato, indeciso, bagana?

Serei contemplada com a escada da escalada futura?
Ecoarei sobre sua covarde escolha a nova partitura? 
Esquecerei a caricatura? Serei cantiga fêmea ou rotura?

(Andrea Lizarb) 

Diálogo poétido inspirado no poema "Porta Fechada" de Ianê Mello

***
Meu Coração - Arnaldo Antunes
Grito para o Nada!

A porta está fechada, trancada
ouço vozes, murmúrios insones
não sossegam e gritam
falam, delatam, acusam, apontam
Fora ... bocas que se mexem ...
... sem nada dizer!

Razão propagada, regras ditadas
ventríloquos do nada
seres de formas normatizadas ...
... consolando sem saber!

Para se fechar a porta é preciso doer
Ganho sem jogar, sei que vou perder
melhor do que perder pensando ...
... que vai vencer!

Não vou, não quero, não batam
sou apenas máscara, não há amor
sou a loucura gritada, me orgulho de ser
Lá dentro, murmúrios, não batam
... não vou atender!

E digo adeus antes de bater!

(Kátia de Souza)

***


*


‎"Eu vou morrer antes de envelhecer. Não sei porque... Apenas tenho esse pressentimento."
(Sid Vicious)

A morte não existe
Sou assim...
meio louco, meio torto
meio sem jeito 
e apenas uma parte
desse insano peito
que sente mas não cala
e grita quando esbarra
nesta aflita certeza 
de se ver a mesa
da fria lápide
com frias mãos
cruzadas já sem voz 
na encruzilhada
desse que já não bate
meu louco coração
Eh! Vivo pra sempre ...
... sou só emoção!

(Kátia de Souza)
 

***


*

 

Pirado Piruá

Extremos causam dor
Um sino retine violência
Choca, machuca, acanha
Imperfeição, fraqueza humana
Suicídio da razão
Assassinato da paixão

Altercação, ódio, vileza
Afeição consigo mesmo
Ofensas em jorro ao esmo
Ações impensadas, fervorosas
Rancor, raiva, ressentimento
Revela índole defeituosa


Esquenta em casca dura
Fechados em mau Piruá
Restolho que não espoca
Será sempre milho de pipoca
Que nunca estala para evoluir

(Andrea Lizarb)

Inspirado em  Lou Reed - Rage up a Storm - Lulu

***


UM DIA PLENO

Um dia perfeito...
Um dia qualquer,
mas diferente

de todos os dias,
dias tão iguais! ...

Outro dia,
apenas um dia,

em que eu pudesse sentir
no meu coração a pulsar
a alegria de estar viva.

Em que minha alma

pudesse estar em paz
e meus olhos ao se abrirem

pudessem enxergar
tudo, tudo diferente...

Outra realidade
menos morta...
Outra realidade...

Um dia perfeito...
simples e unicamente um dia,
onde a paz fosse meu conforto.

Onde um sorriso
brotasse de meus lábios...
docemente.

Onde meus olhos,
já cansados,
 enxergassem além...

Ah, meu Deus,
como eu queria
poder viver esse dia!

Não mais que um dia,
apenas um único dia,
que de tão pleno me contentaria
e me deixaria fechar meus olhos
...

suavemente, num suspiro...
 adormecer ...

(Ianê Mello)
Inpirado na música Perfect Day (Lou Reed)
(Crédito de Imagem: Foto de katzehelena )

*

Há sempre um dia diferente, em nossos dias
Quando nos são permitidas fantasias
Um dia diferente, um dia conseguido
Quando tudo ao pensamento é permitido

E nessa alegria que é o bem de estar vivo
Como se fora num dia primitivo
Queria enxergar tudo diferente
Com meus ouvidos a escutar canto dolente

Um dia onde a paz fosse conforto
E o meu destino sempre chegasse a bom porto
Aquele porto aonde chegam só os sábios
Onde se vê o sorriso dos teus lábios

Então com os meus olhos já cansados
E com o peso do corpo dos meus pecados
O que de melhor me poderia suceder
Era… dando um suspiro…suavemente adormecer…

(Joaquim Vale Cruz) 

Diálogo Poético inspirado no poema 'Um Dia Pleno' de Ianê Mello


Um dia perfeito uma tarde...
Para cada domingo uma tarde.
Para cada tarde sua face.
Quieta sua imagem invade
a saudade que em meu peito arde.

Quisera ser dona do tempo.
Alongar cada momento
de nosso instante vivido,
vívido, absorvido consumido.

Transmutar nesta tarde, 
todas as tardes domingueiras.
canzoeira de prazer e brincadeira.

Na cama a te cansar faceira,
Aconchegar-me a ti por inteira
Destarte, sem alarde, esta tarde retarde.

(Andrea Lizarb) 

Diálogo poético Inspirado no poema "Um Dia Pleno" de Ianê Mello

***


*



‎* DUALIDADE * 
( IRA / TORMENTO )

Tempestades rugem,
No céu da tua boca;
E no ardor ferino,
Da tua língua ágil
E compulgida,
De Rancor,
Ardida ...
Nuvens negras
Toldam o sol,
Dos teus olhos baços;
E raios fúlgidos,
No teu olhar cinzento;
De fúria insana,
Endurecido,
Sem alento ...
Vendavais dilatam
As tuas narinas,
Arfantes e dispneicas;
Na pálida face, 
De ira indomável,
Cianótica e desfeita;
Transfigurada,
Até mesmo imperfeita ...
Quão rudes e abruptos
Tornam-se teus gestos;
E sórdidas atitudes
Afloram, sem controle,
Nem mesmo pudor;
Em teu incontido corpo,
Atormentado, tenso ...
Ao forte pisar,
Tresloucado,
Teus pés ressoam 
Como martelos;
Mas meus passos,
São leves e cautelosos;
Em silêncio temeroso,
Hesitantes, cuidadosos;
Como o quanto se ousa,
Ao pisar em ovos ...

(Ricardo Daiha)

Inspirado na  Sonata nº 15 K 545 (Mozart)


***


SUAVE SINFONIA

Sinto um som ...
um som que vem de longe...
suave, puro, apaixonado...
quase um murmúrio
em meus ouvidos... 
fecho os olhos
a melodia me invade...
doces notas
em acordes 
tocam meu corpo...
posso senti-lo...
vibrante, entregue, lânguido
envolvido num abraço...
minha alma se enleva
num ritmo descompassado...
inevitável a entrega 
em tão suaves acordes 
me desnudo...
me desfaço...
corpo em sinfonia
em mim se revela
vestido de fantasia
docemente eu sou ... ELA.

(Ianê Mello)

Poema inspirado em Mozart (Mozart Violin Concerto in D KV 211 – Andante)

***

Sinfonia nº 40
"...a Música, mesmo nas piores situações, nunca deve agredir aos ouvidos, mas sim cativá-los e continuar sempre Música." 
(Wolfgang Amadeus Mozart)

Olhar num único sentimento

São folhas a cruzar o vento
são pássaros em companhia a voar 
são caminhantes presos em pensamentos
é todo olhar num único sentimento
é sol a passar entre eles
é a chuva torrencial a limpar
é a brisa que incansável dança
são os pés faceiros da criança
são palavras jogadas ao chão e a falar
é todo olhar num único sentimento
sentindo-se põe-se a ouvir, 
música que contagia
contagiando-se chega-se aos dedos
vem abraça-se ao corpo em alegria
acariciando ouvidos atentos
compõe-se então a sinfonia
são folhas, vento e sentimentos
caminhantes, olhar e pensamentos
o sol, a chuva e la vem a brisa
bailando todos, lindos movimentos
nesta música em alegria
nascida de um olhar ... num único sentimento

(Kátia de Souza)

***

Fecundado na alma rebelde

Que revela a fala 
Que cria beleza
Que cria arte
Que unifica
Que ama
... Que anima
Que chora
Que aprende
Que compartilha
Grito alto, desatado
Linhas entrecortam
Paredes ocultas
Que os musicos tocam
Que os poetas abrigam

suas genialidades
Quando exauridos
De dor 
Gritam...
De paixão
Gritam
De alegria
Gritam
Da morte 
Gritam
Da eternidade
Gritam ...
Suas poesias
Rabiscam
Suas notas...

( Leila Onofre)

Inspirado em Mozart Symphony #40 in G Minor, K 550 - 1. Molto Allegro

***


LOUCURA

Só os loucos são generosos!
Só eles sabem dar e receber!
Só eles amam a loucura
E trazem até nós abraços calorosos...
E vêem no fundo do mar, arder,
A âncora da velha sepultura.

Só a loucura vale a pena. 
Só ela não trai as alegrias
Que o silêncio abafou
Depois do amor, dormindo serena,
Com a maré cobrindo de algas fugidias,
Amareladas, como o sono as deixou.
Quero ser louca. Dessa loucura
Que se cola em nós como a resina. 
Quero viver e mastigar devagarinho,
E guardar comigo essa candura
Que os loucos têm, que ilumina,
Essa terna loucura, esse carinho.

(Paula Amaro)

Inspirado na obra Sinfonia nº40 K550 (Primeiro Andamento)

***

*


LOUCURA

Marionete lânguida persuadida
Pelo amor sensual possuída
Afrodite iludida constituída
O desejar de forma suicida

A razão normal já foragida
Reviravolta total na lida
A linha da realidade partida
Acanhada a sentir-se querida

Delirou ser em amor concebida
Midas inverteu a loucura proibida
A viagem ao sol foi obscurecida

No asilo em silêncio enlouquecida
Ainda se banha de lua esquecida
Fatal retrocesso se há insana ida

(Andrea Lizarb)

Obra: Nona Sinfonia
Foto: Marina Colerato

 ***
Ver.so.nata

Dormem meninos profundos
profundo tal sono sem sonhos
Teu sonho sem sono é regra
criada de sonhos e mundos

Arte de saturno e de lua
Lunática tua so.nata
segura este grito fermata
formata o caminho da rua

A rua da rua caminho da lua é tua, garoto
Reclame só clame conclame o ar roto
Teu grito é rito ou mito escroto
Depende do broto

Eu sou a sinfonia da viajosidade
Raposa ancestral ou meia idade
Ver.so.nata baritonal do louco
Silenspectral do suicida rouco

(Dija Darkdija)

Inspirado nas obras dos músicos Raul Seixas e Beethoven

***

São findos os tempos de harpas.
Harpas carecem silêncio.
Já não há mais qualquer silêncio.
Emudeceram-se as harpas.
Não há mais ambiente
às harpas.

São tempos de tímpanos.
Que rufem, então
à pele tesa
Que vibrem e arrebentem,
represas;
Que desmontem torres.

São tempos de trompetes
Que soem, então, aríetes
Que lhes tirem as surdinas.
Que berrem em alerta
campana aberta, estridentes,
à toda irreverência.

Alardem-se as trompas
em quintas-menores
em trítonos diabólicos
arrepiantes e exatos
tocando o fim
dos tempos das harpas...

Esfolem todos os órgãos
em “tutti”, todos os foles
Que vibrem,
em todos os ventos
acordes diminutos,
dilacerantes...

Já são moucos os tempos de harpas...

(Joe Canônico)
Músico: Bethoven "In sonoris silentiosu"
  
***


* SINFONIA *

No violino ardente do teu corpo,

Dedilho músicas, que nem bem ouço,
Reteso cordas, afino a pauta,
Acordo acordes num grito rouco;

Escalo a escala, que em ti me encanta,
E canto um canto que me arrebata,
Depois me calo, como um soneto,
De amor exalto teu instrumento;

Orquestra viva, melodiosa,
Sou teu maestro, e então escrevo,
Em partituras, na tua pele,
A sinfonia do aconchego.

(Ricardo Daiha)

Inspirado na obra Moonlight Sonata ( Ludwig van Beethoven )

*
A sinfonia do amor é tão vibrante
Que nos faz recordar a cada instante
Tantas partituras musicais
E o teu corpo em que me demorei em carícias
Quando de ti, eu recolhi as primícias
Entre suspiros, sustenidos e doces ais

O teu corpo era um instrumento musical
Tão bem disposto em nosso leito nupcial
Que dava vontade de tocar
Pois os acordes e os sons que emitia
Faziam lembra a Ode à Alegria
Que nós dois executava-mos sem parar

E nos compassos que entretanto havia
Compunha-mos com tal vigor a sinfonia
Com andamentos que dá gosto recordar
E no teu corpo ficaram assinaladas as colcheias
Ainda presentes na marca de tuas veias
Que ainda hoje, nós gostamos de tocar

(Joaquim Vale Cruz)

 Diálogo poético com o poema Sinfonia de Ricardo Daiha

*

Partituras escritas
Que sabemos de cor
Que um amor assim
É amor maior,
Poema sem fim.
É estrada aplanada,
Entrega perfeita,
Ternura encontrada
Depois da colheita,
Nesse chão molhado,
Nesse leito ardente,
Corpo transpirado
Dum colo inda quente.

(Paula Amaro)
Diálogo poético com o poema Sinfonia de Ricardo Daiha

***

sexta-feira, janeiro 6

XIV - Um Grito Futuro


Ao futuro, deixamos gritos de esperança, paz e amor. 

Entre os dia de 26.12.2011 a 01.01.2012, foi proposto aos membros do Grupo Grito Criativo a criarem seus textos de reflexão, agradecimento e boas novas através do evento poético Um Grito Futuro. 

Convidamos você a ler tais belas obras a seguir:


***


Chances

Passaram-se anos, como se o tempo fosse irrelevante e a vida, um instante. Não temos apenas um momento na vida, mas vários e constantes. Escravos das chances que temos e perdemos, aproveitamos ou negamos, encontramos ou perdemos. Os olhos não enxergam a necessidade da alma, a razão para o coração querer pular fora do corpo e correr para um abraço, o próprio existir da pessoa já faz com que o necessário apareça e se faça presente como se sempre estivesse lá. O verdadeiro sentimento não esta apenas nos detalhes, mas nos grandes gestos que movem montanhas e são feitos sem o menor esforço, vergonha ou preconceito. Não encontramos a pureza do sentir apenas no desejo, no beijo ou no prazer, esta no crescer e aprender, no passar e tocar acidentalmente com o proposito de sentir aquele calor necessário e a segurança de que estará sempre presente. Passa o ano, novo ano chega, aprender com o tempo faz parte de toda natureza, mais um dia que passa, para que nova noite apareça e simples assim o ano acaba, dando a luz a outro ano que chega. Feliz 2012!

(Leonard Capibaribe)

***


‎"O dia que não tem fim"

Queria meus dedos pétalas pela manhã
afagos doces e acalantos, que não se esquece
Queria minhas mãos faceiras ao entardecer
alcançando teu corpo ... A cena esvaece
Mas, olho aos teus olhos no anoitecer
nesses dias que se foram em saudade vã
Na madrugada a Sabedoria em excelência
E a eternidade em Nós ... Pura essência

(Kátia de Souza)

***


‎"Amor a qualquer tempo"

E cai a noite em gestos cálidos
os desejos se despertam no tocar das horas
o silêncio aumenta do lado de fora
no peito trancado um rodamoinho ... Sentimentos
sou eu mais uma vez a caminhar nos dedos do tempo
no passar do relógio, no tocar das palavras
na angústia alheia em outros lamentos
no abraço amigo que vai se despedindo
em versos de poesia ou talvez em desalinho
certo é o Amor em ternura na troca de olhares
para que se precisa falar quando a alma grita?
nestes passos lentos ... acolhido será se chorares
Sou eu no rodamoinho dos ventos
a envolver teu nome em doce sentimento
Que nada quer impor apenas desejar
o fiel, puro e sublime ... AMOR!

(Kátia de Souza)

***


Minha Essência em Tuas Mãos

" ... Sou terra e abarco em minhas entranhas as estranhas vidas que por mim foram germinadas ... Caladas vidas que gritam num tempo onde a vida se faz naquilo que se lembra e naquilo que se sonha ... Terra eu sou a teus pés em humildade do sentir que te acolhe mesmo que endurecida semente, fechada para a vida que represento ... Sou terra que te abraça em afeto em meu acolher de amar, te ajudando a crescer, frutificar ... Sou terra em teu amanhecer, teus olhos abrir e também fechar em noite escura ... E neste fechar, te olho e te cuido para que renasças mesmo que ainda absurdo ... Mas sou tua e mais nada ... Ventre da vida, amada tua amada! ... Sempre ... E desejada ... Lenta em caminhos mudos, mas gritada em fendas dilaceradas ... Sou eu, terra que lhe atenta para a vida que deseja renascer e que tu ainda em semente não queres ver ... Mas te aguardo como terra que sou em teu despertar ... Despertar este, claro ... De pleno Amor ... "

(Kátia de Souza)

***


"Um grito Mudo"

Nesses tempos onde o passado fora
agora presente em mim transformado
mal cuidado ou cuidado como pudera
já não sei se falo, calo, minto ou sinto
sinto, muito mais que falo e calo
e calado então não minto
porque mentir só se for falando
em versos que nada dizem
e persistem em remover um passado
já mudo em mim corroído no tempo
que hoje clama e chama por paz
e nesse novo tempo só sei que calo
porque mudo não minto e falo
falando a mim, faço, acontecer agora ...
... neste tempo de hoje, que é o que tenho
Nesta que não pára ... Vida minha afora
Caminho pelo tempo soprada no vento
Sou eu calada e remexida por dentro.

(Kátia de Souza)

***



Meu grito de outros tempos

"Quero gritar mas o mudo e seco grito não me deixa falar ... 
Quero sair desse terrível engano de sentir o que não pedi ... 
Mas implorei para ficar e retornar, rever o que não pude fazer ... 
Lembranças de um passado tão remoto que fazem meu peito calar ... 
Remoer-se dentro nesse presente que eu fora buscar para saber ... 
E diante dos meus olhos assim se fez e agora num futuro que não demora ... 
Fico a pensar se não tivera tempo de me preparar... 
Preparo num tempo apenas em vivências e emoções em te encontrar ... 
Preciso te entregar o que lhe pertence o que fazer diante desse presente ... 
Não dá, não consigo voltar, preciso ir e caminhar ... Ânsia que me devora ... 
Mas ouço o vento me soprar o que ainda não entendo ... 
Me abraça num aconchego sem demora ... 
E não sei se essa paz que está se formando dentro, tem a ver com o fora ... 
Pois só escuto o meu calar neste Presente ... Agora ... " 

(Kátia de Souza)

***


‎"Amor de Eras"

Sou pura luz neste alinhavo do tempo
esperança que conduz meus passos
olhando em vãos já percorridos
sussurros já ouvidos e entoados
cantados entre choros e lamentos
ouvidos em constante aprendizado
incansáveis mãos que fazem
escolhendo o que está por vir
na luz Desse que me conduz
buscando neste presente renovado
encontrando Você aqui
Intenso momento misturado
nuances de eras lembradas 
jamais caladas, previstas, concretizadas
mal compreendidas por tantos
reais em mim e em teus recantos
embalo no presente esta que sou
confessando-me a Ti e Você se revelou
a mim guardo por Nós ... Antigo Amor!

(Kátia de Souza)

***



‎"Terra bendita"

Tudo a seu tempo, em tempo tudo acontece
difícil é saber o tempo deste tempo que não se esquece... 
que possamos deixar que a chuva leve 
que a terra revolvida acolha a semente
que possamos abraçar a semente endurecida que custa a brotar 
Terra Nossa ... Nossas entranhas ... terra bendita! Salve a Vida!
que possamos permitir ao sol brilhar 
Vidas nossas, fazer dela uma terra mais frutífera
frutos que ela puder conceder e ele vivificar 
que talvez e nem sempre são aqueles que queremos na vida encarar...
Tudo em seu tempo ... Esforço da Terra que sempre busca em Si ... Resignar.

(Kátia de Souza)

Um grito Futuro ... Inspirado em "NO TEMPO CERTO" de Ianê Mello ....

***


‎"Selado o Amor"

Doce e terno menino
chega aos meus olhos ... Alcanças
contorna meus sonhos em letras
desperta o que não podia ver
te enlaço em minhas lembranças
somos nós agora a saber
Te vejo doce menino 
embalando-se em meus braços
sussurrando ao meu ouvido
lágrimas cruzadas no espaço
te vejo agora sorrindo
Os portais se abrem ... Esperança
neste sorriso nosso de criança
a paz tão merecida anunciada
grita não se faz de rogada
abraça-nos em Amor prometido
revelado em teus olhos menino
Ventos que sopram adiante
nós apenas viajantes
Um tempo em Nós ... "reconhecido"
seguros neste Amor ... Confiantes
respira-se dois ... Alívio.

(Kátia de Souza)

***



PERGUNTAS SOBRE O TEMPO

"Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço
Meu tempo é quando"

É Vinícius, o poeta
Que me diz estas palavras 
e me mostra que o tempo
é aquilo que dele fazemos...

E o que será que temos feito 
Do tempo?
Para onde temos deixado que ele nos leve...??

Me pergunto
Me indago...
Mas só ando no espaço...
vivendo num tempo 
qu'inda não sei se existe!

(Vanessa Vieira)

***


Um presente à caminho...

Bom dia...

Está perto...
Em poucas horas
um novo presente receberemos...
Já sei o que será e, por isso, conto...
Será um livro...
Um livro novo, lindo
Porém, suas páginas
Estarão em branco...
Será o melhor presente
Que receberemos durante
Todo o ano...
Por que seria o melhor presente
Um livro em branco...
Sim, eu conto
Porque será nele
que você vai continuar
escrevendo sua história...
Neste livro terão 365 páginas
e a cada dia você registrará nele
um pedaço de sua história...
Viu como ele é importante...
Agora,
Aproveite que ainda dá tempo
e dá uma lidinha no livro
que escrevestes durante 2011
pense, repense....
Assim poderás escrever melhor
em 2012...

Desejo a todos um lindo amanhecer
e um maravilhosos ano de 2012...
Que muitas histórias possam ser lidas e relidas
e escritas por todos nós!


Abraços!

(Vanessa Vieira)

Imagem: Magritte

***


DO OUTRO LADO

Toque sutil 
no silêncio da casa vazia...
insistente, contínuo...
persiste em ecoar
Com a mão trêmula,
coração aos pulos,
a voz fraca, 
por um fio,
faz-se ouvir 
pelo ouvido que espera,
colado ao fone... 
atento...

- Alô!
- Alô, sou eu!

Um arrepio percorre o corpo
enquanto o silêncio pesa no ar

- Alô, você ainda está aí?
- Sim, estou...

Mais um segundo se passa
no tempo que não espera
Um segundo, cinco segundos, 
segundos que se eternizam...

Um minuto que agora
já se foi na poeira das horas,
nas palavras não ditas,
no silêncio que teima em se fazer ouvir

Tic-tac, tic-tac, tic-tac... 
o relógio não se cansa de bater
acompanhando o coração que dispara

A palavra emudecida, presa na garganta
arranha, quer gritar, quer libertar-se...

e nesse momento tão íntimo e intenso
ouve-se um estalido...

- Alô? Alô???

Ninguém responde.


(Ianê Mello)
Inspirado no poema * NOTURNO * de Ricardo José Daiha Vieira, para UM GRITO FUTURO.
 

***



SIMPLESMENTE SOU...

Mulher
Mar
Amor
Sou tudo
e nada sou
Sou serena
Sou bravia
Sou doce e sou sal
Amoldo, acomodo, nutro
nas entranhas de meu ser
sou sol...
Cintilo como ouro
diamante, joia rara
Sou santa
Sou anjo
Sou pecadora
Sou demônio
Acalmo e abraso
Amenizo a dor
e dela sou causadora
Sou chuvisco, sou temporal
Sou bem e sou o mal
Alegre e triste
Sorriso e pranto
Sou fera ferida
Sou mar de espanto
Sou brisa leve...
calmaria
Sou forte furacão...
ventania
Sou quente
Sou fria
Sou dia e noite sou
Sou tudo
Seu tudo
No nada que restou.

(Ianê Mello)

***


GRITO DE AMOR


Grito forte
grito alto
grito claro
para que todos
possam ouvir:
- AMO!!!
Amo o amor
que liberta
Amor que nasce
e brota em semente
de esperança
Amor que salva
Amor que cura
- AMO!!!
E ao amor me entrego
sem medidas,
sem receios,
sem recuos,
pois sou amor
e nele me reeencontro
e nele renasço...
em luz.

(Ianê Mello)

***



VISÃO DO PARAÍSO

Acordei de um sonho
de uma beleza estonteante
Natureza plena,
vida a transbordar
em flores,
em cores e matizes,
em sons de pássaros
em vôos de liberdade

Mundo de luz,
imensidão no olhar
Seres vivos em comunhão
plantas, animais, homem
um só coração a pulsar

Nesse mundo imaginário,
tão sonhado e desejado,
a harmonia pairava no ar,
a paz habitava em cada ser

Mãos que se uniam e se doavam,
em respeito, em carinho, em amor

Acordei... 
sim, um mundo real me chamava
Abri meus olhos, pisquei três vezes,
olhei ao redor de mim...
tudo o que existia eram um quarto,
o meu quarto de dormir ...

...

mas em minha mente o sonho,
ainda vivo, em luz branca me envolvia

Sorri, um sorriso puro e franco...
renasci.


(Ianê Mello)


***




FURTA-COR " A COR DO AMOR"

O abraço tão esperado e sonhado
colorindo o dia, num imenso arco-íris
Abraço furta-cor,
abraço da cor do amor
Amor que pode chegar
apesar da longa espera
Um dia irá brotar
em flores de primavera
e em primaveris encantos
se decantará em versos
inundando todo o pranto
em calor mais que diverso
Secará lágrimas e feridas
com apenas um doce beijo
e a vida, num breve lampejo,
sorrirá em sóis 
dourados de luz.


(Ianê Mello)

***



SOLIDÃO EM PRETO E BRANCO


Pedro e seus dois cachorros,
um preto e um branco
Pedro vivia só
Ele e seus dois cachorros
Esquecia do pão de cada dia,
esquecia de viver
... apenas vivia
cada dia de uma vez
Esquecia que sentia,
esquecia que chorava,
de sorrir se esquecia
Pedro não sentia
e a vida assim passava
como apenas mais um dia
e Pedro nela vagava
ele sequer pensava
se era vida o que vivia
Pedro não mais sonhava
Pedro só enxergava
o preto e o branco,
sem cores,
naqueles dias vazios.

(Ianê Mello)

***


NO TEMPO CERTO

Lavrar o amor,
revolver a terra
... terra-mãe

Lavrar o amor...
enxada na mão,
ancinho e pá
Mãos em concha,
sementes despejar
em solo fértil

Regar de afeto
e sem pressa,
com o tempo certo,
ver dela brotar
pequenos frutos

Assim, a cada dia,
dia a dia, sem cessar
cuidar da plantação

O calor do sol,
a abençoada chuva,
dádivas naturais,
farão dela brotar
frutos de esperança
que a mão humana
dedicou-se a plantar
...
e, agora, no tempo certo,
os frutos poderá saborear.

(Ianê Mello)

* Pintura de Milliet

***

***


DO OUTRO LADO

Toque sutil 
no silêncio da casa vazia...
insistente, contínuo...
persiste em ecoar
Com a mão trêmula,
coração aos pulos,
a voz fraca, 
por um fio,
faz-se ouvir 
pelo ouvido que espera,
colado ao fone... 
atento...

- Alô!
- Alô, sou eu!

Um arrepio percorre o corpo
enquanto o silêncio pesa no ar

- Alô, você ainda está aí?
- Sim, estou...

Mais um segundo se passa
no tempo que não espera
Um segundo, cinco segundos, 
segundos que se eternizam...

Um minuto que agora
já se foi na poeira das horas,
nas palavras não ditas,
no silêncio que teima em se fazer ouvir

Tic-tac, tic-tac, tic-tac... 
o relógio não se cansa de bater
acompanhando o coração que dispara

A palavra emudecida, presa na garganta
arranha, quer gritar, quer libertar-se...

e nesse momento tão íntimo e intenso
ouve-se um estalido...

- Alô? Alô???

Ninguém responde.

(Ianê Mello)

Inspirado no poema * NOTURNO * de Ricardo José Daiha Vieira.

***


GRITO QUE ECOA EM MIM

Que grito é esse que faz minha pele eriçar-se num gostoso arrepio de emoção 
Que grito é esse que me inspira versos cor de fogo em brasa
Que grito é esse que me toma por inteiro e de mim se apodera
Que grito é esse que remexe minhas entranhas, me rasga, me expõe e me desnuda
Que grito é esse que ressoa e ecoa no Universo inteiro
Que grito é esse que se espalha em sementes de pura luz
Que grito é esse que ilumina e deslumbra em sorrisos
Que grito é esse que liberta o que antes aprisionado estava
Que grito é esse que abre portas para o infinito
Que grito é esse que rebrilha em esperanças o olhar
Diga-me, que grito é esse?

(Ianê Mello)

* Pintura de Margarida Rolin

***


NO ROSTO UM SORRISO

Que o novo ano nos sorria
em flores que desabrocham
em versos que se doam
em mãos de puro afeto

Que o novo ano venha
com paz e esperança
com sorrisos de criança
a colorir nossos rostos
com brilho no olhar

Que o novo ano chegue
e apague os dissabores
da dores de outrora
que com ele venha a aurora
num doce e belo amanhecer.

(Ianê Mello)


Que esse primeiro dia do ano nos chegue como suave brisa e nos renove em forças e coragem para a cada dia sermos mais inteiros e, juntos, coração a coração, lutarmos pela construção de um futuro de muito amor, paz e poesia.
Feliz 2012, queridos amigo! Continuemos juntos a trilhar essa estrada, em versos, em palavras de renovação e esperança.

Obrigada por estarem aqui.
Namastê!!!

***


Um grito futuro,
Grito, de ecos passados
Suspiros do presente...!
Um desejo sorrido
Vontade chorada
Um abraço dado
Em vazio por vezes, presente.
Dor solitária
Em olhares solidários
Amor doado
Ser amado 
Partilhas, investidas
Dor atenuada em braços desconhecidos.

Que os gritos se façam ouvir
Que o olhar seja com olhos de ver
Que os braços sustenham o corpo cansado
Mas sempre, esperançoso.

(Ana Paula Machado)

***



Um grito

Não tinha voz
Tinha no colo o luar
Tinha agarrado o sol
Não mais tive momentos sós
Tinha levado o mar
Tinha as melodias do rouxinol
Mas... Não tinha voz...
Tinha comigo o amor
Tinha levado a amizade
Tinha em meu jardim toda a flor
Tinha nas mãos a liberdade
Eu tinha gritado...
Eu tinha pedido...
Eu em gritos tinha perguntado
Se podia levar um amigo
Mas... Já não tinha voz... 
Doía...
Tinha as bênçãos da maresia
Tinha a paz em meu regaço
Tinha o meu coração puro
Tinha a poesia que faço
Tinha gritado todo o dia
Ao mundo que sempre aturo
E tudo na voz levei
Tudo que amarei
Ninguém nos deve parar
Não existirá muro
Para o nosso grito futuro
Um grito de amar

(José Alberto Sá)

***


O outro lado

Quero água, por favor
Quero pão, estou faminto
Quero só um pouco de amor
Tenho frio, o corpo não sinto
Olhai para mim...
Estou sujo e mal cheiroso
Eu não era assim
Era pobre, mas vaidoso
Quero roupa mesmo que velha
Quero pão mesmo que duro
Não tenho casa, vivo sem telha
Durmo ao frio na sombra do muro
Olhai para mim...
...
Deus me ajuda a suportar
Deus me ajuda nas noites sem sono
Deus me dá alegria, quando levanto
Deus sabe amar
Deus... 
Ele é meu dono
Deus nas noites frias é meu manto
Mas tenho necessidades...
E tu... Sim...
Tu que escreves estas palavras
Porque não consegues ajudar
Porque minha terra não lavras
Eu sei... 
Amigo de lindo poetizar
...
A vida não é igual
É injusta, é cruel
A tua impotência é real
São desabafos no papel
...
O poeta escrevia e chorou
O poeta escrevia e lamentou
A sua vontade a nada chegou
Somente se ajoelhou
E pelo mendigo rezou

(José Alberto Sá)

***


Rezei

Apertei ambas as mãos
Cruzei os dedos
Fechei os olhos... Meus irmãos
Refleti sem medos
Consegui no escuro
Ver mil estrelas reluzentes
Consegui passar o negro muro
De vozes e pecados das gentes
Apertei os dedos mais forte
Não temi...
A vida e a morte
Rezei pela minha impotência
Rezei pela minha ignorância
Rezei pela minha inocência
Rezei para chegar mais perto
Para que não houvesse distância
Não temi...
O aperto... 
E apertei um pouco mais
Minhas mãos eu já não sentia
Mas para minha alegria
Via sonhos reais
Meus dedos pareciam cravados
Nos sonhos por mim sonhados
Refleti e os olhos eu abri
Mais leve e de sorriso rasgado
Abracei tudo que senti
E guardei no meu coração
Muito bem guardado
A vontade dos dedos de cada mão

(José Alberto Sá)

***


PEDRO COM DOIS CACHORROS

Um preto, um branco
Duas ruas no mesmo bairro
A vida indo de trás para frente
Pedro com dois cachorros
A campainha tocou indistintamente
O branco latiu, o preto escutou
Mais uma correspondência errada
O carteiro assinou um protocolo
E voltou a guardar aquela carta
Pedro abriu uma Coca-Cola
Os cães seguiram-no até a cozinha
Sua geladeira estava vazia
Os cães estavam com fome
Acharam um pedaço de corda velha
E roeram aquilo com apetite
Mais tarde Pedro iria comprar pão
Já há três dias que ele age assim
Divide seu pão com os cachorros
Ainda tem um potinho com margarina
Que sua ex-mulher esqueceu de levar
Os cães de Pedro adoram margarina
Pedro agora mora só com dois cachorros
Pedro agora mora só com dois cachorros
Pedro agora mora só com dois cachorros

(Beto Palaio)

Foto: Mario Cravo Neto

***


TRÊS HAICÁIS AO MARAVILHOSO PÂNTANO

(Depois de Matsuo Bashô)

Piscina do clube
O atleta olímpico salta
Gira no ar, gira no ar, gira no ar...

*

Para a outra pedra
Da pedra do meio do caminho
O homem-sapo salta

*
A neblina se espalha 
Branca como um véu de neve
Esmaecida no pântano

(Beto Palaio)

* Pintura: Raoul de Keyser

***

AMOR AMADA

Não te encontrei , amor amada
sob a lua cheia dos poemas
nem por entre as estrelas que vagalumeavam
diante dos olhos serenos dos que amam , sonham
sorriem e sentem na pele
o frescor das noites claras

Não te encontrei em meio a flores coloridas
roseirais , açucenas
tampouco frente ao lençol quarado
dos cafezais em flor

Em verdade
naquela época eu era apenas
escombros de uma cidade bombardeada
e que em seu bojo trazia
a física solidão dos desesperados

Eu te encontrei , amada minha
na ausência da espera e da esperança
no tempo das cicatrizes abertas
onde o espelho do dia refletia apenas os estilhaços
das noites que eu mesmo assassinava

mesmo assim te amo ainda
e creio que será para sempre

tanto assim que todos os dias me iludo
de ver à retina retornar
pontos de luz como se fosse fim de túnel
ou opaca claridade de tímida
porém nova e renascida espera
de mais uma esperança

(Bruno Junger Mafra)

***

O POEMA ESCURO

Que pode haver de novo
no Ano Novo
eis que repleto 
... de tua ausência
provavelmente viverei
um ano
morrendo a cada nascer do dia ?

Não tenho mais
a negra cachoeira
de teus cabelos
tampouco a estrela
de teu olhar
me dizendo que a escuridão
é clara
quando os desejos refletem
luzes de amor

Na falta da junção 
de nossos corpos
à sombra de tua ausência
serei sempre
metade de mim

Incompleto então
tateio às escuras
o sonho morto
que um dia 
me fez viver

( Bruno Junger Mafra )

***

TEMPO

O tempo do amor
era marcado pelo relógio
do sol

Ah , tão claras eram
as manhãs orvalhadas
de esperança

Sonho 
que renascia
a cada dia

Houve um tempo assim
hoje esvaído
na areia
que aterrou
a praia

(Bruno Mafra)

***


‎ ‎* QUE NOS BASTE APENAS AMAR *

Doação. 
Doar de nós o que melhor temos, dentro de nós mesmos.
A certeza do Bem feito, do amar realmente amado, das decisões certas, por vêzes mesmo não indo de encontro às nossas vontades. A ajuda sem recompensa, mesmo sem expectativa de reciprocidade. 
A entrega independente do retorno, ou da espera de retribuição. 
O tornar único, o divisível; o transformar o egocentrismo, o individualismo, em generoso altruismo.
Sim, o reconhecimento do Eu no Próximo, e todas as atitudes e ações advindas disso.
O amar, sem querer ser amado, apenas amar e que isso nos baste. 

(Ricardo José Daiha Vieira)

***


‎" De Tudo, como um Todo, ser único, individual, primórdio das Eras, degrau da Evolução, elo das Espécies, obra prima da Criação, fazes parte da vida da Vida, e, em Vida te transformarás."

( Ricardo José Daiha Vieira )

***


* CORDIS CEREBRUS *

Desperta do sonho, sinapse,
Obedece teu destino, 
De ser, do dendrito e axonio,
Seu fiel elo mensageiro;

Escrava de teu neurônio,
Libere mais transmissores,
Envia descargas elétricas,
Ioniza o caminho;

Produza serotonina,
Inunde o receptor,
Dependente de endorfina,
Para existir o amor;

Dominante e dominada,
Pelo cortex neural,
Com desgargas adrenérgicas,
Do cérebro ao espinhal;

Faça bater corações,
Exacerbe as emoções,
Com raios e mil trovões,
Dilúvios de adrenalina;

Cumpra assim a tua sina,
Para isso és nascida,
Acorda de teu longo sono,
E perpetue a vida.

( Ricardo Daiha )

***



* PENSAMENTOS POÉTICOS *
( POESIA CEREBRAL ) 

Dendritos, sinapses,
Neurônios entrelaçados,
Os transmissores ativados;

Circunvoluções elétricas,
Do córtex ao hipotálamo,
Bulbo e cerebelo;

Da medula aos nervos,
Mensageiros,
... teus servos.

( Ricardo Daiha )

***


‎* RENASCER * 
( FÊNIX )

Das cinzas,
Qual Fênix,
Renovado;

Em vulcões
Eclodindo,
Em cataclismas;

Erupções 
De adrenalina,
No meu peito;

O despertar
Dos mortos,
Qual Lázaro,
Revivido;

Em minha alma,
A calma,
Injetada,
Em nostalgia;

E a lucidez
Dos erros 
Cometidos,
Do querer,
Contido;

Reviver
Prá vida,
Esperança
Renovada;

Por menos
Que se tenha,
Tentado;
Vale sonhar,
Eternamente;

Os sonhos,
Que nos fazem
Bem,
À alma.

( Ricardo Daiha )

***


* ESPASSEANDO *
( PASSEANDO NO ESPAÇO )

ESPAÇONAVES ,
CÉU INFINITO ;
TANTO ESPAÇO ,
QUANTO MISTÉRIO ...

LUGAR SEM FIM ,
SEM MEIO ,
NEM PRINCIPIO ;
SEGUIR VAZIO ,
NUM MEIO ETÉREO ...

VOU SEGUIR GALÁXIAS ;
BUSCANDO , SEMPRE,
LUGARES OUTROS ,
DESCONHECIDOS …

E O TEMPO ,
NÃO MAIS É TEMPO ;
O ESPAÇO ,
NÃO MAIS ESPAÇO .

DE ONDE VENHO ?
PRÁ ONDE VOU ?
VÔO , EM MINHA NAVE , VOU * … /
/ VOU , EM MINHA NAVE , VÔO ** …

FLUTUO , NO FUTURO ,
SEM SABER,
O SEGRÊDO DA VIDA
E DA MORTE ;

O MISTÉRIO ,
DOS MUNDOS ;
DO SILÊNCIO PROFUNDO .

O PORQUÊ DO AMOR ;
A RAZÃO DE VIVER !

( Ricardo Daiha )

letra : Ricardo Daiha
música : Ricardo Daiha & Afonso Infurna

***
  
 

‎* TEMERIDADE * 

Hás de ser temerário;
Audaz em teus atos
e palavras;
Arrojado no espírito
e na alma.

Ousar;
Expor teus pensamentos
e humanas atitudes;
Enfrentar a vida
de peito aberto,
sem mêdo;
Sem receio algum 
de não seres compreendido,
em nenhum momento;

Seres sempre tu mesmo,
além das máscaras,
e armaduras,
que tu te vestes;
E das que te impoe
o mundo;

Haverás que ter ímpeto.
Agir nas horas certas, 
em que teu coração
achar que deves;
Segui-lo sem restrições,
questionamentos ou dúvidas 
... é teu coração .

Acreditar em tua alma
inteira e cegamente,
intuitivamente,
incondicionalmente; 
... a tua alma enxerga além de ti,
e vê mais longe.

Hás que ser autêntico,
transparente, verdadeiro,
sem disfarces, limitações
ou superficialidade;
... és único !

E aí,
e tão sómente aí,
encontrarás a ti mesmo,
na profundidade de ti,
serás livre,
e terás paz.

( Ricardo Daiha)

***



* SEMEIA TEUS GRÃOS *

Escolhe tuas sementes, lapida teus grãos, e semeia;
Rega com amor, dedicação e e esperança ...
Boas sementes, os grãos escolhidos, 
Certamente darão bons frutos;
Que vão gerar melhores ainda sementes;

Mais frondosas serão as árvores, 
Mais profundas, as tuas raízes;
E, assim, dos ramos que brotarão,
Mais extensa se tornará tua sombra;

E, a teu tempo, em bom tempo,
Verdejantes, frutificarão e florescerão;
E terás, então, abrigo à tua paz.

(Ricardo Daiha)

***


‎" ... até que voltes para a terra, pois dela foste tirado. Tu és pó, e ao pó voltarás... " (Gênesis 3:19)

 * DO PÓ AO PÓ *

Sou terra,
E, terra que sou,
Adubada em minh'alma,
Semeada em meus versos,
Solo fértil;

A germinar amores,
A gerar afetos,
A florir desertos;

E quando à terra retornar,
Deixarei sementes;
Raízes profundas,
Marcas para sempre;

Fetos de emoção,
Repletos,
Eternamente ...

( Ricardo Daiha )

***


* UM GRITO AO INFINITO *

Um grito aprisionado, contrito, 
encerrado em outros gritos, aflito;
Encarcerado em sofrida mente, 
cerrado entre dentes, doído;
Abortado o grito na semente;

Um grito de socorro, um grito,
do fundo do coração, moído;
De espasmos na garganta,
um rouco, gutural grito;
Um grito imenso, ao infinito;

Também um grito de alívio,
de paz e de liberdade;
Grito de encontro,
da identidade;
Do próprio grito.

(Ricardo Daiha)

*** 


* METAMORFOSE * 

Transmuto-me,
Em seres, até então,
Por mim desconhecidos;

E na face, o pranto,
Que transformo num débil,
E pálido sorriso;

Cresce a dor,
Que me transpassa a alma,
E me sufoca o grito;

De amor, 
Que me assola o peito,
E, toma-me os sentidos;

E que, de imenso,
Sentimento incontido,
Expansão sem limites;

Sobe aos céus,
Como um lamento, 
Um uivo triste; 

Lança rouca,
Que no breu da noite,
Explode ao infinito. 

(Ricardo Daiha)

***


* DÊ TEMPO AO TEMPO * 
( ATEMPORAL )

Dê tempo ao tempo,
Que o tempo,
A seu tempo, 
Tudo fala;

Dê tempo ao tempo,
Que o tempo,
Em bom tempo,
Tudo transforma;

Dê um tempo 
Ao tempo;
Que o tempo,
Tem poderes,
Atemporais;

Que nem o tempo
Apaga.

(Ricardo Daiha)

***


* QUE NOS BASTE APENAS AMAR *

Doação. 
Doar de nós o que melhor temos, dentro de nós mesmos.
A certeza do Bem feito, do amar realmente amado, das decisões certas, por vêzes mesmo não indo de encontro às nossas vontades. A ajuda sem recompensa, mesmo sem expectativa de reciprocidade. 
A entrega independente do retorno, ou da espera de retribuição. 
O tornar único, o divisível; o transformar o egocentrismo, o individualismo, em generoso altruismo.
Sim, o reconhecimento do Eu no Próximo, e todas as atitudes e ações advindas disso.
O amar, sem querer ser amado, apenas amar e que isso nos baste. 

(Ricardo José Daiha Vieira)

***


* PAIXÃO *
"As paixões são como ventanias que sopram as velas dos navios, fazendo-os navegar; outras vezes podem fazê-los naufragar, mas se não fossem elas, não haveriam viagens, nem aventuras, nem novas descobertas. " 
[ Voltaire ]

Que 2012 seja um ano de muita Paixão!

Paixão pela Vida.
Paixão pelo Amor.
Paixão pela Paixão.
Paixão pela Paz.
Paixão pelos Ideais.
Paixão pela Esperança.
Paixão pelo Próximo.
Paixão por Você Mesmo.
Paixão pela Felicidade.
Paixão pela Caridade.
Paixão pela Misericórdia.
Paixão pelo Perdão.
Paixão pela Concórdia.
Paixão pela Natureza.
Paixão pela Harmonia.
Paixão pela Família.
Paixão pela Amizade.
Paixão pela Liberdade.
Paixão pela Bondade.
Paixão pela Honestidade.
Paixão pela Fraternidade.
Paixão pela Sinceridade.
Paixão pela Dignidade.
Paixão pela Humanidade.
Paixão pela Verdade.
Paixão pelo Criador.

Apaixonem-se, 
e assim farão deste Mundo,
o nosso Mundo,
um Mundo melhor!

(Ricardo Daiha)

***

 
 
* ROMÃ *

Incenso, poder e ouro,
Tudo isso é efêmero;
De perene o romã,
Prefira o sabor do amor,
Nesta fruta o valor;
Dá mais sorte a vida inteira;
Guarde os grãos na sementeira,
Bem fundo, do teu coração;
Está na Semente, o Amor.

( Ricardo Daiha ) 

diálogo poético com o belo poema de Erika Foresti, "Desejante ".

***



‎Desejante

Incenso, ouro, poder? O que querer para o amanhã?
Prefiro morder a fruta romã!

Palmilhar desertos no vislumbre de oásis sólidos
vegetar mil sóis noturnos
Até a última gota de mel, me lambuzar
do fruto proibido, o florido
em bosques da terra prometida. 

Cor do Éden, flor, fruta e sabor
estanca as feridas abertas, latentes, flamejantes
Envolta em morno sangue rubilito
dorme a mais dura pura pedra diamante. 

A mordida neste império
incorpora segredo da alquimia
lúdica, amada amante
Húmus venusiano, terra fértil 
que acolhe do mistério, a semente.

Desejo de Romã e seu (in) verso, 
Eis o que fecunda todo o ardor,
Ãmor. 

 (Erika Foresti)

 * Imagem: pé de romã in globomidia.com.br

***

Neurónios entrelaçados
Prolongamentos…uniões
Que transmitem emoções
Por mal dos nossos pecados

Circuitos interrompidos
Em tão loucas sensações
Nestas circunvoluções
Que nos destroem os sentidos

Mas é preciso ter tino
Da medula até aos nervos
Para não sermos os servos
Mas donos de um bom destino

(Joaquim Vale Cruz)

***

Gritos de amor
Que por vezes são de dor
Pois amar, mais que tudo
É … se dar...
Mas dar por inteiro
Ao seu parceiro.

É renúncia
Que mais que tirar
Acrescenta
Pois ao dar amor
Seu amor aumenta

É confiar
Porque amor sem confiança
Não tem esperança
E sem ela, nada se alcança

Se o amor prende
O amor liberta
Pois a chama se acende
Nos queima e ascende
Ao mais alto de nós

O amor é tão puro
Que nos mostra o futuro
de forma risonha
Pois quem ama… sonha

E tal como a semente
Que se lança no campo
O amor tem encanto
Se da semente nasce
Um fruto, uma flor
Pois até isso... é amor

E ao renascer liberta
E na medida certa
É a coisa mais pura
Pois ele até nos cura
Nos salva e nos leva
A uma completa entrega
Que não é escravidão
Mas sim doação
Que nunca é mentira

Ele nos dá mais que tira
Pois quanto mais damos
Mais dele nos dão
E vem a paixão
E vem o encanto
E por isso MEU AMOR
eu te amo tanto !

(Joaquim Vale Cruz)

***

Da terra vim
P’ra Terra vou
Esse é meu fim
P’ra isso estou

Em versos ponho
Os meus sentimentos
E neles sonho
Doces momentos

Semeio amores
Semeio afetos
Germinam dores
Nascem desertos

E ao ficar só
chegando ao fim
Retorno ao pó
Do qual eu vim

(Joaquim Vale Cruz)

***

Num grito que ecoa, me repito
Sempre, sempre até ao infinito
Num som que em minha alma ecoa
E que a dureza da vida não perdoa

Grito contrito que aprisiona a minha mente
E tão aflito, que não podia ser diferente
Grito cruel que espelha a minha dor
E tão profundo que sinto qual estertor

Grito de socorro, ou grito de emoção
Que sai aflito de dentro do coração
Que por ser mudo é de identidade infeliz
Num sofrimento que nasceu sem ter raiz

(Joaquim Vale Cruz)

***

CANTO DE UM POVO

Há em cada boca um grito 
Em cada grito uma esperança 
Em cada esperança um homem 
Em cada homem um pedaço de Deus.

(Newton Baiandeira)

***


NUNCA MAIS DESPERTAR!

Oh! Volta, volta, meu sublime sonho!
Quero ficar somente aqui dormindo
Contemplando meu anjo puro e lindo
No momento mais lânguido e risonho!

Este êxtase perfeito, um gosto infindo...
Perdê-lo? Não, eu não quero, eu me oponho!
Eu bem sei que o momento mais medonho
É levantar ao Sol sobressaindo.

Eu descobri que a vida quer me ver,
Mostrar sua verdade só de dor
E a angélica criança me esconder...

Eu prefiro os meus sonhos ao luar!
E se for p’ra deixar o doce amor,
Então, nunca mais, não mais despertar!

(Rommel  Werneck)

 ***

Meu Grito

Este meu grito
É o grito da esperança,
Da alegria,
Dos momentos bons e ruins.
Da dor. 
Tão triste de se sentir e de se ver...
O grito de todos os dias!
E que “Ele”, lá do alto
Tão bem vê e escuta,
E que com certeza, procura,
Em nosso grito, a cura!
A cura para o espírito,
De nossos momentos mais críticos.
A cura para as dúvidas;
Que através de mãos humanas,
“Expos” no texto de Pandora.
Onde “Transmite” a certeza:
A esperança deve permanecer!
Ser a última a morrer...
Caso pudéssemos “de verdade”
Morrer um dia...
E para que com a esperança,
Permaneça só a alegria! 
A alegria de crer e viver a vida!
Que tenham tido um Feliz Natal!
Feliz Natal para todos os nossos dias!

(Valéria Daiha)

***

“Um Grito de Felicidade”

O sol do passado
Iluminou a Terra!
E este sol queria aquecê-la!
Este sol queria alimentá-la!
E neste vazio que sinto,
Lembro da Terra carente!
Precisando de justiça,
De igualdade, fraternidade,
Amor e Paz!
Da Terra onde a chuva cai,
Molhando as plantas!
E os frutos amadurecem...
Chuva que precisa ser de todos!
Frutos que todos precisam!
E assim, este vazio extremo,
Se posta naqueles que tem fome,
E naqueles que vêem a fome “de outros”...
E alarga-se e se distende...
Como que pedindo inocente;
Para que tenhamos o alimento,
E tenhamos água pra viver!
E se tornem fecundos,
A justiça, a saúde, o amor...
Onde o sol ainda ilumine,
A terra a gritar de Felicidade!

(Valéria Daiha)

***

UM GRITO DE PAIXÃO 

Era fato, de fato e´você , a mulher que imaginei e revivo a cada gole : de vida, de veneno à puritanos, de amargo aos corretos, de magia aos céticos, de ardente aos tementes, de trevas à fiéis, de ceifante às almas pequenas, de ilógicos aos cultos, de alucinante aos calmos, de felicidade aos simples, de fecundo aos coitos, de instigantes aos ouvintes
de delicias aos famintos, de suculento aos bárbaros, de irresistível aos namorados... Te revivo a cada gole “de amar” que derramas (escreve) em meu corpo e sorve... Com barulho, com força, com a mesma sede que nos seca de vontades... Sede que nos homenageia num só suor... 
De músculos, membros, pressão e calor, condensando sais respigados de perfumes, de paixão e sexo, de líquidos (dantes partes de cada um) em nós, e no ar agora vaporizados...

(Rudi Ceu)

***

UM GRITO ADMIRADO

Seus Olhos

Ontem vi você, vi seus olhos inquisidores, sinceros e lindos, espertos, dispersos, daqueles que não só vêem, mas percebem “ouvindo” e “falam” olhando, coisas únicas...
Emoções transparentes, raiva verdadeira e sem perdão , 
carinho amigo e sem limites, respeito digno e sem soberba, 
alegria transbordante e sem fachada; desinteresse real e 
sem desculpas, interesse intenso e sem desvio, excitação
fervente e sem responsabilidade; responsabilidade visível e sem ondulações; amor, terno e quente, maior, sem dúvidas nem enganos... Vendo seus olhos, disse ter medo deles, não que me fizessem mal, mas que vissem quem sou, como sou...
E me vendo nesses seus olhos, de menina e de mulher, soube o quanto você é especial, como uma menina verda-deira e infreiável, uma mulher linda (!),forte e sem igual... Tive medo que sua sinceridade colocasse-me em meu lugar...
Lugar de plebeu, que fita a princesa que o visita em seus
sonhos, sempre que penso em você.  

(Rudi Ceu - Plebeu) 

***

UM GRITO DE AMOR

Às vezes

Às vezes, inúmeras, preciso de alguém, que brigue comigo rindo e me fale absurdos,que me beije, que fique horas conversando sobre nada, pelo simples prazer de falar e ser ouvida,que fique quieta, me namorando de longe, que lânguida em um poltrona, pare no meio de uma frase de um livro qualquer, e de mim,de meu aniversário, da minha primeira pergunta,que sinta meu cheiro e veja minhas maneiras...Alguém que feche os olhos, e sinta os beijos roubados (que sonho), que uso ra acordá-la, todas as manhãs... Preciso de alguém que me morda de vez em quando,me apertando e dizendo que me...

(Rudi Ceu - Namorado)

***

HUMMMMM , GRITO FEMININO

Mar, Mulher

Nas encostas, presentes sempre está. Mesmo calma, demonstra imensa força, uma energia contida, num toque feminino de espera e paciência...
Sua força acumula-se ao passo das coisas, transborda ao sabor do vento, tremula em ondas, cintilando um brilho belo, evaporando concentrando seu sal... Suave, toca rochedos impassíveis, acaricia fendas cortantes, derramando-se sobre eles com dedos macios, vai infiltrando nas rachaduras, empoçando nos rebaixos, transformando-os, moldando-os, salgando-os, dando de si...
Com aparente sofreguidão, beija as praias e baias, delineando a procura de algo que não sabe e nem conhece, mas continua indo e vindo... Incansável e sempre diferente, vai e vem...
Em si, longe do quadro, à revelia, ao som triste embargado em voz de sereia, encontra-se imensa, às vezes, calma demais, noutras, puta!
Furiosa, chora confusa, então ri, embora triste, espera...
Tudo parece à deriva, no oceano que te envolve, sabes que podes contar com o sol e a chuva, o dia e a noite... E tudo te toca, te move, te muda...
Ora doce, ora salgada, ora quente ora fria... Então o vento é um caminho, o calor do sol alimento, a chuva desabafo, o amanhã um recomeço, à noite esperança...
O tempo passa, e sabes que também cresce, e quando as coisas parecem insuportáveis, a vida lhe dá suprimento/ base, extraindo, quase arrancando sua reação, e em sua arrebentação, encontra seu espaço, sua vida...
Seria você, mar? Mulher? Ou meu amor? 

(Rudi Ceu - Marinheiro)

***

UM GRITO , UM URRO !

Ao Léu

Beleza ingênua de uma rainha impetuosa e forte !
Amiga de todos e ainda assim exclusiva da família...
Viaja em sonhos inumeráveis que insuflam no mais baixo e longe “choro ou som da prole”...
Prole, sim!
Mulher leoa que lambe vigorosamente,limpando, massageando, dividindo a delicia do toque aconchegante dos que se amam...
Atenta, alterna paciência e impaciência, e morde, e lambe... Chorando sem lágrimas como num urro interna não aceita as faltas da vida, porem não deixa de fazer, de tomar frente, de proteger os seus...
Urra na correria do dia-a-dia, na busca da caça, na briga pelo pedaço de terra, na arte de ensinar aprendendo...
Sua força cresce com a experiência, sem subjugar-se, atende à natureza das coisas, enquanto leões só rugem, urram e se matam... Ter um leão pode ser bom, mas não é tudo, não é solução e nem grande problema, afinal eles só berram pra floresta ouvir... Problema é viver na selva em que se vê cercada, onde é constantemente exigida, testada num esforço físico monumental, onde já acostumada pela falta de descanso, continua,amamentando, acarinhando, como o único verdadeiro carinho é... O que da aos seus...
Na selva, caçando ou sendo caçada, ganha ou perde... Quando tropeça e perde a caça, levanta e ainda machucada esquece o cansaço e a dor, inicia e reiniciara quantas vezes forem precisas, sabe que precisa continuar afinal cansaço é um luxo pra poucos e não pra ela (você)...
Então domina seu reino sendo dona de seus passos...
Leoas nunca serão esquecidas, nem extintas, enquanto houver mulher como você!

(Rudi Ceu - rud)

***

Um grito frágil

Frágil

Num presente futuro, onde “homens trecos”, servem complacentes e felizes suas amas, em um mundo azul, com cheiro de limpo e organizado, nem rosa, nem perfumes isso é coisa de homem moderno...
Homens inteligentes e bem informados, cheios de “saúde”, com uma filosofia ímpar, de olhar feminino, coisa do futuro, serviram e preparariam suas mulheres para este novo mundo (selvagem), cheios de belezas, exigências e eficiências, onde as coisas funcionariam... Os prazos, os cheques as promessas, a fidelidade...
Bons companheiros , seriam “produzidos” por suas mães, irmãs, tias, primas, vizinhas, professoras, medicas, amantes e todas que estivessem próximas... Bons cozinheiros, românticos, cheirosos, que esperariam em casa com seus filhos limpos e alimentados…Sempre prontos, para ouvir, dançar, beijar, banhar, massagear, amar ou simplesmente dormirem abraçados...
Pacientes e nunca desinteressados, príncipes (pegajosos e chatos)... Bons amigos, amantes, com milhares de planos possíveis e impossíveis, como de viajar para lua de madrugada, para fazer sexo selvagem na enorme pedra, do lado daquela cratera, onde foi, um dia pedido em casamento.
Mas que mulher neste mundo, seria tão irresponsável, e ir (?), ou deixar-se levar por um homem, pior, por um sonho masculino e como tal, nada prático e nem confortável.Talvez, antigamente, quem sabe (?), mulheres românticas, se é que existiram (?), não rissem, e talvez fossem, e espremessem á cada suspiro e ardor masculino, deste devaneio de homem moderno.
O mundo mudou, melhorou, mas os homens continuam bobos, com pouca percepção das coisas e da vida. O que seria deles (nós)? Tão frágeis sensíveis e sonhadores, se ficassem sós, neste maravilhoso e novo universo feminino?

(Rud Ceu - Amélio)

***

UM GRITO NUM MESMO SONHO

Músicas e carinho

Sonho com lugares calmos, tocados pela natureza , e nossa ( por enquanto) sonhada presença (acho que dividimos isso...). Então vejo ao longe, em coisas que nunca nos prometemos... E imagino você n‘outro lugar além de aqui... Aqui! Está como sempre, especialmente única !! E lá (rsrsrs), linda e estonteante (sinto-me lá também...).Fico feliz por lembrar, e poder sentir, saber , que cada um , em seu mundo e tempo, se cuida e estará (estaremos...) sempre bem... Estou bem e melhorando, assim , quanto mais tempo levar, melhor poderá me encontrar...Comparo cores , flores e sons , pra que melhor possa te encontrar , então celebro a vida em teu sorriso e fantasias (acho que conheço, as sei...). Alterno palavras e pausas, pra te olhar, te escutar quando lê “no dia 13 de agosto”, algo só nosso... Escuto sua respiração meio-controlada , que faz vibrar sua voz e vontades , que beijam a minha imaginação... Lê e sorri , então riu na/pela semelhança nova e renovada , de sua/minha/nossa forma de escrever , num estilo que nos une , quando “ vestida de rud” deixa-se influenciar, ou reescreve perguntas sobre “ares e florestas” ,quando lê-nos, e sente falta de algo , e mesmo assim, encontrasse no tocar familiar , de algo que já disse,escreveu ou cantou “ no oi!-tavo dia de agosto”...Pleno recebo o aflorar , de flores em sorrisos ; de brotos em frutos deliciosos e suculentos (uvas, livros, fotos, maçãs, peras, você...).Os presentes vêm chegando , e você vem vindo...E a cada nova nota que me toca , em musicas que comigo divide, vou inteiro me achando em cada letra, destas letras mágicas que parecem seres escritas por uma mesma alma... Uma alma de nome carinho... 

(Rud Ceu - RUD)

***

UM GRITO INSANO

É loco “né”?

Agente se acha por ai ...

E procura não perde-se 

Se molda sem forma
Se expõe sem pensar
Se deixa ...
Sem querer voltar

Se envolve sem negar...

Sente-se sendo 
Sugado...
Sons
Sal e sonhos
Suor e saudade
É loco ne´?

(Rudi Ceu - Eliezzer)

***

Um grito insone

Era uma vez uma cama

Era uma vez ,uma cama,não uma qualquer,mas a mais desejosa das camas,cama minha,onde caminham meus desejos por você...Ela tem o tamanho da nossa imaginação, a forma de uma intensa entrega,a maciez de teus lábios, a força de nossos corpos e pesos, todo conforto de teu colo, a satisfação de soluços a sorrisos, tem o calor de peles e torrentes de sangue que nos levam a suores e espasmos,o perfume temperado de nosso encontro, o aconchego sincero de amigos amantes, a espera insana, por mias uma estocada, mais um aperto, mais um beijo...Tem o espelho, em que nos vemos nos olhos do outro, toda guarnição de nossos estoques de ar, água, vontade e paixão; o estrado de nossos músculos, ossos, de braços e quadris.Tem o colchão em/de nuvens que encontramos no toque de línguas, mordidas e unhas...Os lençóis e elásticos amassados por gritos, mãos, joelhos e queixos... 
Dispostos travesseiros, travessos atravessam pernas, braços, apóiam corpos, cabeça, nuca e as medidas, na medida em que são formados, recheados de desejos, nivelam vontades, 
empinam fantasias, ajeitam o prazer...Cobertores de lembranças que forram, esfolam, aquecem, sugam...Guardo-nos juntos, nesta ou em outras camas...

(Rudi Ceu - Ricardo)

***

UM GRITO CULINÁRIO

Colheradas (coelhadas) em Fogo Alternado

Frite alho amassado com (vigor) sal, (pensando em mim) na manteiga, coloque (dançando) uma taça de vinho tinto, um copo de requeijão, um pouco de mostarda, duas colheres de extrato, e meia (preta) de açúcar, cozinhe sem provar, cheirando (-me) constantemente, corrigindo ao seu gosto e vontade, o sabor, com gotas e pitadas de; água (saudade); mel (emoção); amido (amizade); açúcar (amor); canela (fome); sal (desejo); pimenta (tesão); e ouro em pó (luxúria) opcional... Despeje um copo de leite, pela colher de pau, mexendo (rebolando), lentamente (pensando em nós), deixe engrossar (instigando), alternado o (seu) fogo. Obtendo um creme agridoce, de cheiro (delicioso) agradável e sabor (seu) ímpar, atípico e agregado (a mim), instigante como o amor (e o sexo). Sirva (-se), colocando (-me) em uma travessa rosa.
Rendimento: duas pessoas (famintas)
Dica: delicie-se, usando (-me) como acompanhamento em pratos (e lugares) quentes e/ou frios.
Do Chef: ainda não fiz (sonhei), faça e me convide para (te) provar! (Chef)

(Rudi Ceu)

***

OLHOS QUE GRITAM

Num palco desconhecido
Desconheço-te!
Em peças que encena
Nas peças que vestes
E reveste-me no calor
Ao contraste de cabelos e seios
Desconheço-te na intensidade
Da forma que se despi...
Ensaias ao vivo,
Ensaiando a revelia
As falas de meus desejos 
Por teu corpo!
Eu , na primeira fila
Em cadeira principal
Mudo ao dialogo de nossas peles...
Surdo aos sons do mundo...
Doido na fome por tua carne...
Experimento diferente ...
Deliciosa, encaixando-se
Descendo suave...Ávida !
... Uma mulher vestida de você !!

(Rudi Ceu)

***

#feliz2012

Nos esbarramos sem ir lá...E de lá não vamos voltar...
Você me perguntou o mesmo que respondeu, e em nada me achou ou perdeu...
Me deu mãos sem dedos, dançou sem música, sorriu depois...
Não disse , não aprovou , e nem pelo contrário caminhou...
Não tenho seu blog, você não sabe de minhas raizes ou frutos...Somos algo sem nome, talvez se existisse:
ciúmes-legal
espelho-"vertido"
apenas-aceitação
parentes -escolhidos
algo-perfeito
obras-gêmias
almas-primas...rsrs.
Acho "qu'inda" assim,bom...

Eu leitura de tuas palavras, você um tanto ouvidos das minhas.
MUITOS ESBARRÕES NESTE E NOUTROS ANOS...

(Rudi Ceu)

***

EU VOU...

PRA UM LUGAR DE PAZ ...

VOU ME VISITAR, 

ESTAR UM POUQUINHO COMIGO, 

DESEJO MUITOS PASSEIOS,

PRA TI EM TI NESTE ANO QUE ENTRA , 

MUITA PAZ NO SABE E CONHECERÁ DE Você MESMA

ENTÃO :

RIA 

CHORE

SINTA TUDO...

E SE DEIXE:

RENOVAR

RECOMEÇAR

RESPIRAR

RIR

DEIXE-SE ESTRAVAZAR, 

SE PREPARE PRA ESTE NOVO ANO

# FELIZ 2012 !!!!

  (Rudi Ceu)

***

grito e gritarei com os braços abertos
a noite se rasgará
e as aves se levantarão acendendo a luz

grito e gritarei enquanto ouvir as vozes roucas do mundo
os sorrisos se abrirão nas pedras
e brotarão as águas repletas de peixes e sonhos

grito e gritarei com as vossas mãos nas minhas
o amor criará raízes no corpo
e serão ditas as palavras da alegria

(António Castanheira )

ouvindo os vossos gritos neste final de 2011.

***


DIÁLOGO DE SURDOS

Mulher 
Onde deixaste o brilho dos teus olhos?
Os sonhos que tivestes?
A esperança que criaste?

- Perdi-os
Não sei onde, entre os escolhos
Do mundo que me deste,
Da fé que me tiraste.

Aí, também meus sonhos se quedaram,
Mais fracos do que eu,
Que ainda existo.

Esperanças? Essas ficaram,
Viradas para o céu
Frio e arisco.

(Paula Amaro)

72

***

ENCANTAMENTO

Nas tuas margens
Cresce a sombra rubra
Onde me abrigo
E deito.
E cresce nas margens
Do meu corpo
O desejo de te despir
E calar o grito
Dos teus ais noturnos.
Nada é mais terno
Nem mais intenso
Que o amor feito das palavras
Que nos damos.
E vivemos mastigando
Desejos e esperanças
No amanhã. 
Que seja azul 
Rosa e branco
Das cores com que se veste 
A palavra encanto.

(Paula Amaro)

***

Um grito surdo
cala a noite

Cortinas se fecham
nos escuros

Há um vazio
vestindo o tempo

É tarde demais
para dobrar a página

(Ydeo Oga)

***

Tempo de colher

o tempo nasceu
vamos colher
as folhas que caíram
no caminho do outono
de nossas vidas

arrancar as dores
aprender
o significado das cores
e contar as pedras
da nossa razão

fincar as bandeiras
dos nossos sentimentos
e abrir a porta
do campo dos nossos sonhos

antes que esse tempo veloz
ultrapasse
as nossas vontades
e cale a nossa voz

(Ydeo Oga)

***


ACALANTO

Talvez acreditar 
É preciso reencontrar
O retrato das almas
Refazer, reviver
A água fleuma
Intercala a turbulenta
A idéia de saber você
Acalma-me, acalenta
Vai embora o entristecer

(Andrea Lizarb)

***


ECOAREI EM SEU FUTURO

Gritarei, esbravejarei, prantearei, ecoarei através do futuro:
Não, você ainda não terá coragem de enxugar meus prantos!
Ficaremos como duas crianças sentadas separadas no escuro...
Precisarei guardar retratos de nossas almas ainda em cantos!

Serei seu eterno desatino de ontem que prosseguirá impuro,
Serei a eterna dançarina de um cabaret parvo de sentimentos...
Por mais prematuro o apego a você, foi tão puro, forte, eu juro!
Que importa a dor se lágrimas estéreis jamais merecerão alentos?

Vá! Siga sua trilha! Fechar-se-á sobre sua desventura?
Esquecerá a raiz que plantamos em terra profana?
Ou se rasgará de agonia sem ato, indeciso, bagana?

Serei contemplada com a escada da escalada futura.
Ecoarei sobre sua covarde escolha a nova partitura: 
Esquecerei a caricatura, serei cantiga fêmea, abertura!

(Andrea Lizarb)

***


Muitas vezes vivemos armados por um arsenal de respostas prontas, sem entender a totalidade da vida. Fazendo manutenções sem razões e emoções, ou até mesmo sem percepção da necessidade de reformas que sustentem de fato as dinâmicas dos propósitos interiores. Que possam segurar os vínculos diários entre as idealizações e realizações. 

A cada dia que passa nos locomovemos para mais perto da morte. Então porque não escolher uma vida qualificada sem pré- conceitos, sede de poder e outras condutas que nos distanciam da verdadeira felicidade?
Portanto encha os pulmões pelas sensações impagáveis da natureza. Sentindo na alma e coração vontades permanentes de uma riqueza chamada liberdade, sem as fachadas que muitas vezes desviam o verdadeiro amor do sentido da existência.

Vamos nos unir para poder abrir nossas portas mal fechadas, por ás vezes sermos indiferentes com as mudanças certas para o mundo. Reconciliando-se com a gente através de atitudes corretas para um futuro melhor. Reeditando o passado com sementes novas nos abundantes solos de nossas próprias reflexões presentes. Para que o agora tenha um novo sentido para uma humanidade cada vez mais perigosa e urgente!

O mundo inteiro mudará para o amor e respeito quando mudar interior da gente

Feliz 2012!!!!!!

(Reinaldo Macedo)

***


A humanidade precisa pensar, refletir e procurar-se nesse mundo de tantos mundos. Que as vezes sequestraram aqueles que não entendem o seu verdadeiro sentido na existência.

Quanto mais pensadores gritando... mais ações de profundas mudanças teremos. Construidores de novos olhares para compreensões originais sobre o verdadeiro sentido na vida, sociedade e amor. 

Grite bem alto, abraçando o interior da gente!!! 

(Reinaldo Macedo)

***

Eis o meu grito:

"Ao Futuro"

A um Futuro risonho,
Ergo o meu cálice da vida 
E concedo ao uno Coração
O verbo que é a sua batida;

A um Futuro quase presente,
Lanço sorrisos de esperança
Aos olhares que se reflectem
Nos sonhos de uma criança;

Mas, por um Futuro de brilho,
Evoquemos o trilho passado,
Toda a dureza e toda a rigidez
Que fizeram o saber conservado.

Então, brinde-se a esse Futuro!
Pois nossa história foi mudada
E o Amor já reclama o trono
De uma nova Vida alcançada.

(Pedro Belo Clara)

***

DENTES IGUAIS

 Para Charles Baudelaire

Meus olhos desdobram o espaço plano,
As mãos tremem e, nas pernas as dores,
Para o fim que desdiz escândalo engano:
O futuro vai à frente dos meus mentores.

De um lado, as cercas e as flores da casa,
Do outro, poeira da estrada e capim limão,
Duas crianças brincam rindo empolgadas:
Não se sabe onde foi parar a segregação.

Um ostenta o aparato banhado em ouro,
O outro, um feixe de palitos de madeira.
E decidem trocar entre si seus tesouros:
Ambos de dentes brancos alvissareiros.

(Eduardo Ribeiro Toledo )

***

O PROFETA ESCARNECIDO


Seus olhos estão fixos sobre as águas caudalosas
O gosto do pão dormido permanece em sua língua
E suas gengivas ardem como uma antiga fornalha
Os olhos brilham e a bruma distorce as velas dos barcos
Que passam ao longe
Os barcos estão distantes,
Mais distantes que a pequena cidade onde ele nasceu
Ele não desejava a coroa de espinhos,
Nem reinos deste ou de outro mundo
Queria viajar e ver o mar
Ouvir o ruído avassalador das ondas...
A liberdade foi conseguida a fórceps,
Dentro do olho do furacão,
Sentiu o hálito perverso da fera
Havia dezenas delas em cada esquina
Mas ele não se importava
Bêbado de luz, dançava ao som dos passarinhos
E seu corpo vibrava sob a luz prateada da lua
Não há ninguém para dizer adeus
E nenhum lugar é longe demais para seu passo tranqüilo
Recusou todos os futuros brilhantes
Que outros imaginaram para ele
E mesmo perseguido e caluniado,
Mantinha a leveza dentro de si
Não perdia a sobriedade quando lhe atiravam pedras
E continuava a dança pagã,
Tendo a lua como única testemunha
O claustro foi-lhe como uma lufada de ar essencial
O enleio da aurora furta-cor fustigava-lhe a memória
Ele esperava pelas manhãs enquanto os dias pareciam não ter fim
O tempo reluzia, mas era uma luz de eterno mistério
O tempo era um catre deserto
E ele se sentia solitário como o campônio
Que se enamora da estrela mais longínqua...
Caminhou por montanhas e por vales,
Bebeu nuvens como se fora um sonho
Venceu pelo cansaço aqueles que o queiram um mártir,
Não era líder de ninguém,
Não arrebatava multidões
Não tinha nome, mas aprendeu a ler
E a palavra se fez sua amiga e confidente
A selvageria foi sua única professora
E a névoa do crepúsculo esculpiu-lhe o rosto de pedra
Seu riso era turbulento e só as estrelas pareciam entendê-lo
Enquanto a espuma do mar lambia sua face
Com a docilidade de um cão
Dividiu o pão adormecido com os fracos e os doentes
E passava horas a fitar o horizonte escorregadio,
Uma vez pediram-lhe conselhos
Mas ele não os tinha para dar
Escarneceram dele, mas continuou a cultivar seu jardim,
A música era bálsamo
E dava sentido às cores e às formas
Acariciava o cachorro adormecido
E lia sonetos que falavam sobre o mar
Ignorava a razão cartesiana
Preferia a singeleza das hortas cultivadas
Dos choupos insubmissos
Campo e litoral eram seus paraísos
E não mais havia o rosto dela para perturbá-lo
A luz provinha do mar e não do sol,
Do rio e não dos lampiões...
Ele era belo em sua imperfeição...
Seus olhos continuam fixos sobre as águas caudalosas
E o gosto do pão dormido ainda permanece em sua língua...
(Erico Cordeiro)

***

A luz da sabedoria
Fez-me ver
O quanto o brilho do dia
Me faz crescer
E agora tudo se me prende
Ao meu relógio sem tempo
Que me poderá um dia deixar
Mas quem não aprende
A viver num outro tempo
Ou numa outra galáxia morar?

(Ana Flausino)

***  

DOIS OLHARES

Neste momento
Estou a pensar
No olhar
De uma criança
Que tem sempre 
Esperança

No olhar 
De uma mulher
Com esperança
De um filho 
Que não alcança.

(Carlos Fernando Bondoso Bondoso)

***

MÃE ÁFRICA

MULHER ÁFRICA MULHER DO MUNDO
OLHAR SERENO DISTANTE
PERTO DE QUEM AMASTE
TENS OLHOS NEGROS COR DO BASALTO
TUA PELE MARCADA PELO TEMPO
TENS A ALMA SOFRIDA
TEU ROSTO TEM CONTRASTES PROFUNDOS
DE UMA VIDA SEM VIVER
TEU CABELO TEM TRANÇAS
SÃO VOLTAS E VOLTAS
DE UM CAMINHO DE SOFRIMENTO
PERDESTE A IMAGEM DE TEUS FILHOS
FORAM LEVADOS PARA LONGE
ESTÁS SÓ NUMA POSE BRILHANTE
COM PENSAMENTO DISTANTE
TENS O OLHAR VAGO
PERDESTE TUDO
PERDESTE O TEMPO NÃO TENS IDADE
MÃE ÁFRICA TENS DIGNIDADE...........

Poema que dedico à mulher africana.Tempo da escravatura

(Carlos Fernando Bondoso Bondoso)

*** 


Sombra

A neve mais fina
O piano que atende
e se consome

No olhar sem nome
o que há de belo o 
amor puro e perfeito

porque nunca se cansa
de esperar casa que deixara
o vento deixa a noite clara

Tudo silêncio e pó sem dono
o olhar sem brilho a caminhada
sem volta

Surgindo de mistura
entretecem na sombra
se espalha a palha cobre 
tentações

(Rodrigo Rios de Lucas)

***


 PREDIÇÃO

Acabava de dar-me conta 
que estavam esquecidos
os nomes dos dias e 
já respondia
só a evocações de luz
ou sombra; assim foi 
quando ontem começou:
dessa simplicidade mesmo
era que nascia-me
então,
em tais extremos,
o compasso da música
constante, única,
o mais das vezes
manando em calma,
dado o desaparecimento
do que poderia vir
sem avisar,
exceto o vento.
Sibilando pelo alto
essa tal arrelia,
então
de inopino - quer fosse triste,
fosse resignado – sumiam
o nômade, o bambo,
o segregado; entrementes,
nem sendo justa, 
se alastrava a simplicidade
pedinte do pouco, do mínimo,
ou ao menos
chocalhos vazios e
paredes nuas.
A música,
ausentes metais e
madeiras,
o vento,
parâmetros
e prazos
ausentes, 
previam-me a marcha
do grandioso silêncio.

(NeyMaria Menezes)

***


RENOVO

D’entre
a metade nada 
e a metade noite
partiu a nave-mãe,
no primeiro
dia do mundo,
com destino
ao princípio.
Embarcados,
navegamos
em elipse
dentro dela,
nossa nau,
nossa terra,
atraídos que somos
pela estrela;
viajando cada ano,
através
da solidão cósmica,
com destino
ao começo.
Ali renascemos,
de novo risonhas
crianças.

(NeyMaria Menezes)

* Imagem: de Gérard Dempuré

***

SOFRO AO INFINITO COM A DISCUSSÃO DAS PEDRAS E DA CHUVA

1.
Sofro ao infinito com a discussão das pedras e da chuva.
Toda a natureza em meu redor se deforma
se altera
se completa
Todos os animais se justificam na própria existência
― passada ou presente
(e até futura).
A terra, o sol, a lua, as estrelas,
Todas as coisas se conformam no meu pesar
Todos os homens dialogam na minha alma
E o vento
[que se imagina pacificador]
Eleva
O fogo
E varre
As cinzas...

2.
Tenho a alma delicada.

3.
(Faz alguns meses eu vi um tigre. Seu corpo se estendia ao infinito. Sua pele era de um laranja fulgurante. Suas listras, diferentes e iguais entre si, pareciam conter algum segredo, linguístico, atemporal. Como o de Pandora).

4.
Nunca me recuperei dessa visão.

5.
Agora estou no meu quarto escrevendo para as traças
Ouvindo a chuva arguir com as pedras uma canção sem data
Como uma partida de xadrez empoeirada.
E estou em xeque de mim mesmo.

(Rodrigo Della Santina)

***

No fim do mundo

Procurei, pelo mundo inteiro um pedaço de mim
Ficar bem quieto
Seria mais fácil.
Morrer devagar…
Não ter ilusões e desistir cedo, não é o meu jeito
Sempre fui incómodo,
Nunca desisti,
De te procurar…
O aqui falhou, por razões várias, procurei ao longe
Encontrei tudo,
O que procurava,
Bem no fim do mundo…
E não me perdi,
E voltei inteiro,
E voltei contigo.

(Joaquim António Godinho)

***

perdi o toque

chorei
por ele
bebei em vão
vaguei na noite:
é reveillon!

(Lenir Castro)

***



Aromas Noturnos

O abismo do tempo
a magia dos sonhos
o lamento dos ventos.
Eu me purificando,
na água benta emanada
dos seus olhos!
O aroma noturno
labirinto dos meus desejos.
Vida!
Amor!
Migalhas de uma existência.
Vozes.... Luzes.... Beijos!...

(Sulamita Ferreira Teixeira)

***

CRAVO OU ROSA?

Céu fechado neste lado da esfera...
Pingos da Criação
jogam-se à terra
infiltrando-se à vastidão...
E seguem seu curso cristalino
a favor da germinação
doando-se aos grãos do caminho...
No vai e vem das sementes,
milhões ressuscitarão da escuridão...
Fico a imaginar, entrementes, 
que poesia brotará por aqui, 
debaixo dos pés, logo ali...
Será que virá como um dedo 
e se abrirá como uma mão 
em exposição?
Ou nascerá afiada como uma espada? 
Virá amargoso veneno 
ou auxílio pro irmão? 
Virá verde verde 
ou verd'amarelado?
Virá a estrela vermelha, 
a magnífica bromélia do Cerrado?

Ou virá comestível, cor de vinho?
Virá vinho?
Virá sustento de abelha?
Será aveludado carinho,
ou corola espinhosa?
Será frondosa?
Se rosa,
- como uma prece -
de qual espécie?
A favor de qual cor?
Em comunhão
a qual coração?

Para que o amor em flor se arrebente, 
terra e água tornam-se um na semente. 


(Janet Zimmermann)

Caraguatá ou Bromélia do Cerrado
Imagem: Fazenda Baía Grande, Facebook.

***











Feliz 2012



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