"A arte é um jeito que o ser humano tem
de resgatar sua própria grandeza oculta"

André Mauraux"


Este espaço tem como objetivo (re)criar a arte através da apreciação e reflexão desta em suas várias formas e expressões, fomentando o encontro poético entre seus membros.
Façamos da arte do encontro nosso grito poético, fazendo ouvir a nossa voz em uníssono, tranformando a palavra em verbo.
O grupo terá temas semanais, que serão postados sempre aos sábados e terão a duração de uma semana. Esses temas serão publicados no blog , no grupo e na página do facebook.
Todas as formas poéticas serão bem vindas.
As postagens que não se refiram ao tema da semana serão bem vidas, mas só utilizaremos para a publicação no blog, as que estiverem em consonância com o tema proposto.

Sejam bem vindos!
Namastê!!!!

sexta-feira, janeiro 13

XVI - Um Grito ao Som da Loucura



Começamos o ano com um grito especial.
Durante três semanas iremos dialogar poeticamente sobre a loucura.

A cada semana convidaremos os amigos a dialogar sobre um artista que em seu tempo foi dado como louco por seus pensamentos e atos não convencionais.

Nesta primeira semana convidamos os membros do Grupo Grito Criativo a dialogar ao ritimo da loucura e selecionamos os seguintes artistas:

- Lou Reed

- Sid vicious
- Mozart
- Bethoven
- Raul Seixas
- Arnaldo Antunes

Segue o resultado dessa linda troca poética:




*


"Pra se criticar um rato, de rato você tem que entender." 
(Raul Seixas)

Setas do julgamento

Ao ouvir tua voz, grito
não suportando tamanho absurdo
choro, nesto sorriso mudo
de ver este esforço aflito
alcançar-me sem brio
em tamanha torpeza
jugo que carrega nos ombros
acreditando ser nobreza
neste olhar estou por um fio
pois não vê a loucura que te cega 
louco egoísmo ... vil
nessa vaidade insana que ...
... "em" e "a" Ti, carrega.

(Kátia de Souza) 

***


♫ Basta ser sincero e desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo! ♫
(Raul Seixas)

Bailando no Ar

Recomeçar
esquecer os erros
fazer diferente
ser resistente
persistente!
Novos rumos traçados
mesmo com pés cansados
agarrar com unhas e dentes
esse vida, essa luz
esse amor incandescente
desejado, reluzente!

(Rafael Jr)

Inspirado na música 'Tente Outra Vez' (Raul Seixas)

*

Repetir a música preferida

Fotografar flamboyants
Rabiscar a bico de pena

Mostrar agrado ao amigo
Rir largo de tolices

Esculpir em nuvens o ser amado
Pintar de amor o seu retrato

Encontrar o cabritinho fugido
Espiar o pássaro no ninho

Beijar de jeitinho
Fazer amor nesta tarde

Descobrir no pincel mais do verde
Que nos deu Papai do céu

Reunir os amigos num abraço
Emocionar com suas poesias

Acariciar a viola tempos esquecida
Gemendo tímida até cantar bem polida

Há que se ter tempo de enterrar
Sob terras molhadas de lágrimas

Os pés bem firmes pisar
Para então, tudo de novo recomeçar.

(Andrea Lizarb)

Diálogo Poético com Rafael Jr no poema Bailando no Ar


***

DE FELIZ E LOUCO

Há que ser co-autor
Há que ser um tanto erradinho
Há que ser de risco
Quase nada certinho
D’a vida ser inovador
De aventura fluir, por nadinha fugir
Da eiva o rabisco
Sem apagador nem juiz
Há que ser um tanto louco
Há que ser temperado
Em tudo um tanto apimentado
Nunca, jamais ser pouco
Quem não arrisca, risca
O atrativo de si
Quem se atreve
Escreve na neve e segue leve
Há de ser delirante
Prá poder seguir adiante
Ser quiçá interessante
Bem aventurado e radiante
O prudente é desenxabido
Nem com ele esta contente
Enquanto o louco apraz à gente
Não apaga seus rabiscos do canhoto da vida

(Andrea Lizarb)

Inspirado em Maluco Beleza (Raul Seixas)

***
O que é locura se dito que, se existe em nosso psiquismo então não importa na verdade 
de onde surge?
O que importa é que la se encontra
Se o pernsamento é criador, quao rico é o penamento do "louco"?
Do louco de amor
Do louco pela arte
Do Louco pela aventura
Então, e o de quem, por sua vez nao encontra-se em ninguem,
Por ser tão unico como ele só 
Então isso seria a loucura?
Amamos os loucos
Amamos a loucura 
Por que ela é franca e forte 
E pulsa la no fundo de nossas almas
Embaixo da saia da razão
Esta sim deveria ser considerada uma loucura
Visto que, onde predomina extingue completamente o ser.

(Cristiane Lawall)

***

Músico que filosofou uma vida solitária, sempre entre a multidão. 
Combinou como ninguém a sensação do que o rodeava, com a genialidade de inventar melodias com mensagens únicas, gritos de sua dita (in) sanidade, agraciada por alguns seguidores, ainda hoje seus fãs.
Raul Seixas olhava de maneira diferente, sentia o que muitos dificilmente poderão sentir, daí, ter vivido entre a multidão a maior das solidões. Sua hábil capacidade de esmiuçar o pormenor, o invisível, aos olhos dos ditos comuns, o catapultou para um estágio de “pessoa diferente”, o que lhe causou transtornos psico-sociais.

Este “personagem”, subtilmente dá voz a uma visão caótica e desprovida de regras, estratos ou religiões e nela vislumbra caminhos, possibilidades e lógicas naturais, em suma uma sociedade mais sã.

Neste epílogo dramático, sua existência ainda que publica e aplaudida, esvai-se num triste fim, característico entre os ditos “incompreendido pensador”.

(Ana Paula)

***



MALUCO BELEZA

Esse baiano arretado
desde menino inquieto
matava a aula na escola
viajando na loja de discos
ouvia Fats Domino, Chuck Berry
mas tinha em Elvis seu ídolo
grande e excêntrico maluco beleza
sábio na sua "loucura" sã
não procurava respostas
perdido olhando pro espaço
em seu Plunct, plact ,zoom
fazia a vida acontecer
"pare o mundo 
que eu quero descer"
era que nem borboleta
preferia ao casulo, o vôo livre
uma metamorfose ambulante
cavaleiro errante na vida
nascido a dez mil anos atrás
a mosca na sua sopa
o prego no seu sapato
o soco no seu estômago
queria revirar sua cabeça oca
com suas novas idéias
e viva a sociedade alternativa
"faça o que tu queres,
pois é tudo da lei"
o amor livre, sem ciúme 
pois o grande segredo da vida
aprendeu com as pedras
nascemos e permanecemos sós
então, nunca desista da vida
tenha fé e sempre tente outra vez.

(Ianê Mello)

***


TREM DE ARAQUE

É bom mesmo que você pense
Que eu não pertenço a você
Dizendo que eu não presto mesmo
Que eu posso partir quando quiser
Como a areia no piso do banheiro
Eu fica indo embora aos poucos
Nos desamores que aprontei sozinho
Eu não estou para o que der e vier
Eu nunca perdi o medo do escuro
Só não tenho medo da chuva
Sei que a chuva é algo fantasmagórico
Que evapora da terra para o ar
Nunca aprendi segredo nenhum
Pois a vida imita o jornal de ontem
Noticias que choram sozinhas
No mesmo lugar de sempre
Eu não posso mesmo entender
Com tantas lorotas impressas
Disseminadas como pulgas
Nos colchões de ricos e pobres
E em todos os cães do universo.

(Beto Palaio)

***


Os Loucos

Os normais se sentam e se levantam.
Os loucos também.
Os normais fingem, os loucos perambulam.
Os loucos reconhecem que uma pedra fala.
Os normais, alguns até se assustam ao desejar a flor.
Os loucos bebem a flor e a exalam.

(Madhu Maretiore)

***
REPENTE MALUCO

Poetas peço licença
Por não saber versar
Mas minha demência
Autoriza-me a cantar

Canto as delícias do amor
As rosas p’ra namorada
O riso do cantador
Nos braços da sua amada

Canto a criança que brinca
E delira com seu feito
Um, dois, quatro ou trinca
Tabuada sem preconceito

Canto o pássaro que voa
Sobre um lindo jardim de flores
Trazendo a vida à toa
Num arco-íris de cores

E no final desse repente
Escrevendo no céu a giz
Mostrando a toda gente
Meu nome – Louco Feliz!

Sidney Santos

 ***


"Eu Não sou louco é o mundo que não entende minha lucidez..."
(Raul Seixas)

" ... Sou a Lucidez ... Reconhece-me? ... "

... Vazio os olhos de quem nos vê
... fechada a boca em mudos versos
... na distância de quem nos toca
... abismo insano em indiferenças
... razão gritada por todos os lados
... lucidez descabida palavra torta

(Kátia de Souza)

***


Gente - Raul seixas
  
"... Do insano descabido em Nós neste amar racional, resta-nos o insano descabido medo de amar em Si ... Sempre querer e nada ter e jamais sentir ... O doce prazer do Amor Real ... "

(Kátia de Souza)  

***


♫...Controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez...♫
(Raul Seixas)

Maluquez

Certo é o que pensam?
Errado é o que dizem!
Certo é o que vêem?
Errado é o que imaginam!
Certo é o que falam?
Errado é o que ouvem!
Certo é o que desejo
o que EU sonho
o que me dá prazer
que me faz delirar
me faz rir sem motivo, e
chorar de alegria
que me faz arder
suspirar
gemer
gozar...
Certo é o que me faz feliz
poder acordar satisfeito, e
ter certeza do caminho que escolhi
com riscos sim, mas um aprendiz
de um amor lindamente louco,
que eu sempre quis!

(Rafael Jr)
Inspirado na música Maluco Beleza (Raul Seixas)
***




PORTA FECHADA

Eu grito
grito para as paredes
que não respondem
grito para ouvidos
que são surdos...

entre quatro paredes
aprisionada
sem janela para respirar
e uma porta fechada
um corpo fechado
na dor de ser

grito...
um grito sentido
um grito catártico
um grito de dor
um urro animalesco

mas a porta fechada
não se abre
...
meu grito não será ouvido

longe de tudo
longe de todos
tão longe que nem sei
aonde eu estou
longe até de mim mesma
do que em mim reconhecia
nisto em que me tornei

- SOCORROOO!!!!!!!!!!!!
Preciso que me escutem!

não, ninguém pode escutar
todos estão muito longe
todos estão alheios 
dentro de si mesmos
... encimesmados

Grito, grito, grito...
até calar minha própria voz 
que vem de dentro
até gastar as palavras...

Grito até perder a voz

mas todos estão tão longe
você está tão distante
sequer me vê
tampouco me ouve

mas grito mesmo assim
o que me resta
além do grito?

essa angústia no peito
essa dor que me consome
essa vida que não me vale?

Porque continuar a luta
porque acreditar
em que acreditar
em quem?

Meu grito ecoa
grita dentro de mim
reverbera em meu corpo
ensurdece a mim mesma
mas em vão...

...

ninguém escuta...

meu grito se vai 
no vento
em parte fora
noutra parte dentro
em mim

são palavras vazias
que se perdem 
no silêncio
que me devora

...

me encolho num canto
entre quatro paredes
sem janela para respirar
e uma porta que permanece fechada

uma lágrima escorre 
sobre minha face
sinto seu gosto
em minha boca entreaberta

...

me calo.

(Ianê Mello)

Inspirado na música Meu Coração (Arnaldo Antunes)
( Fotografia de Pavel Mirchuk)

*

Gritos, podem ser de dor, de desespero, de medo. mas eu prefiro os gritos de amor:

Gritos de amor
Que por vezes são de dor
Pois amar, mais que tudo
É … se dar
Mas dar por inteiro
Ao seu parceiro.

É renúncia
Que mais que tirar
Acrescenta
Pois ao dar amor
Seu amor aumenta
É confiar
Porque amor sem confiança
Não tem esperança
E sem ela, nada se alcança
Se o amor prende
O amor liberta
Pois a chama se acende
Nos queima e ascende
Ao mais alto de nós
O amor é tão puro
Que nos mostra o futuro
de forma risonha
Pois quem ama… sonha

E tal como a semente
Que se lança no campo
O amor tem encanto
Se da semente nasce
Um fruto, uma flor
Pois até isso é amor
E ao renascer liberta
E na medida certa
É a coisa mais pura
Pois ele até nos cura
Nos salva e nos leva
A uma completa entrega
Que não é escravidão
Mas sim doação
Que nunca é mentira
Ele nos dá mais que tira
Pois quanto mais damos
Mais dele nos dão
E vem a paixão
E vem o encanto
E por isso MEU AMOR
eu te amo tanto !

(Joaquim Vale Cruz)  

Diálogo poético inspirado em poema "Porta Fechada" de Ianê Mello)

*

Responda-me!

Gritarei, esbravejarei, prantearei, ecoarei através do futuro:
Não, você ainda não terá coragem de enxugar meus prantos!
Ficaremos como duas crianças sentadas separadas no escuro?
Precisarei guardar retratos de nossas almas ainda em cantos? 

Serei seu eterno desatino de ontem que prosseguirá impuro?
Serei a eterna dançarina de um cabaret parvo de sentimentos?
Por mais prematuro o apego a você, foi tão puro, forte, eu juro!
Que importa a dor se lágrimas estéreis jamais merecerão alentos?

Vá! Siga sua trilha! Fechar-se-á sobre sua desventura?
Esquecerá a raiz que plantamos em terra profana?
Ou se rasgará de agonia sem ato, indeciso, bagana?

Serei contemplada com a escada da escalada futura?
Ecoarei sobre sua covarde escolha a nova partitura? 
Esquecerei a caricatura? Serei cantiga fêmea ou rotura?

(Andrea Lizarb) 

Diálogo poétido inspirado no poema "Porta Fechada" de Ianê Mello

***
Meu Coração - Arnaldo Antunes
Grito para o Nada!

A porta está fechada, trancada
ouço vozes, murmúrios insones
não sossegam e gritam
falam, delatam, acusam, apontam
Fora ... bocas que se mexem ...
... sem nada dizer!

Razão propagada, regras ditadas
ventríloquos do nada
seres de formas normatizadas ...
... consolando sem saber!

Para se fechar a porta é preciso doer
Ganho sem jogar, sei que vou perder
melhor do que perder pensando ...
... que vai vencer!

Não vou, não quero, não batam
sou apenas máscara, não há amor
sou a loucura gritada, me orgulho de ser
Lá dentro, murmúrios, não batam
... não vou atender!

E digo adeus antes de bater!

(Kátia de Souza)

***


*


‎"Eu vou morrer antes de envelhecer. Não sei porque... Apenas tenho esse pressentimento."
(Sid Vicious)

A morte não existe
Sou assim...
meio louco, meio torto
meio sem jeito 
e apenas uma parte
desse insano peito
que sente mas não cala
e grita quando esbarra
nesta aflita certeza 
de se ver a mesa
da fria lápide
com frias mãos
cruzadas já sem voz 
na encruzilhada
desse que já não bate
meu louco coração
Eh! Vivo pra sempre ...
... sou só emoção!

(Kátia de Souza)
 

***


*

 

Pirado Piruá

Extremos causam dor
Um sino retine violência
Choca, machuca, acanha
Imperfeição, fraqueza humana
Suicídio da razão
Assassinato da paixão

Altercação, ódio, vileza
Afeição consigo mesmo
Ofensas em jorro ao esmo
Ações impensadas, fervorosas
Rancor, raiva, ressentimento
Revela índole defeituosa


Esquenta em casca dura
Fechados em mau Piruá
Restolho que não espoca
Será sempre milho de pipoca
Que nunca estala para evoluir

(Andrea Lizarb)

Inspirado em  Lou Reed - Rage up a Storm - Lulu

***


UM DIA PLENO

Um dia perfeito...
Um dia qualquer,
mas diferente

de todos os dias,
dias tão iguais! ...

Outro dia,
apenas um dia,

em que eu pudesse sentir
no meu coração a pulsar
a alegria de estar viva.

Em que minha alma

pudesse estar em paz
e meus olhos ao se abrirem

pudessem enxergar
tudo, tudo diferente...

Outra realidade
menos morta...
Outra realidade...

Um dia perfeito...
simples e unicamente um dia,
onde a paz fosse meu conforto.

Onde um sorriso
brotasse de meus lábios...
docemente.

Onde meus olhos,
já cansados,
 enxergassem além...

Ah, meu Deus,
como eu queria
poder viver esse dia!

Não mais que um dia,
apenas um único dia,
que de tão pleno me contentaria
e me deixaria fechar meus olhos
...

suavemente, num suspiro...
 adormecer ...

(Ianê Mello)
Inpirado na música Perfect Day (Lou Reed)
(Crédito de Imagem: Foto de katzehelena )

*

Há sempre um dia diferente, em nossos dias
Quando nos são permitidas fantasias
Um dia diferente, um dia conseguido
Quando tudo ao pensamento é permitido

E nessa alegria que é o bem de estar vivo
Como se fora num dia primitivo
Queria enxergar tudo diferente
Com meus ouvidos a escutar canto dolente

Um dia onde a paz fosse conforto
E o meu destino sempre chegasse a bom porto
Aquele porto aonde chegam só os sábios
Onde se vê o sorriso dos teus lábios

Então com os meus olhos já cansados
E com o peso do corpo dos meus pecados
O que de melhor me poderia suceder
Era… dando um suspiro…suavemente adormecer…

(Joaquim Vale Cruz) 

Diálogo Poético inspirado no poema 'Um Dia Pleno' de Ianê Mello


Um dia perfeito uma tarde...
Para cada domingo uma tarde.
Para cada tarde sua face.
Quieta sua imagem invade
a saudade que em meu peito arde.

Quisera ser dona do tempo.
Alongar cada momento
de nosso instante vivido,
vívido, absorvido consumido.

Transmutar nesta tarde, 
todas as tardes domingueiras.
canzoeira de prazer e brincadeira.

Na cama a te cansar faceira,
Aconchegar-me a ti por inteira
Destarte, sem alarde, esta tarde retarde.

(Andrea Lizarb) 

Diálogo poético Inspirado no poema "Um Dia Pleno" de Ianê Mello

***


*



‎* DUALIDADE * 
( IRA / TORMENTO )

Tempestades rugem,
No céu da tua boca;
E no ardor ferino,
Da tua língua ágil
E compulgida,
De Rancor,
Ardida ...
Nuvens negras
Toldam o sol,
Dos teus olhos baços;
E raios fúlgidos,
No teu olhar cinzento;
De fúria insana,
Endurecido,
Sem alento ...
Vendavais dilatam
As tuas narinas,
Arfantes e dispneicas;
Na pálida face, 
De ira indomável,
Cianótica e desfeita;
Transfigurada,
Até mesmo imperfeita ...
Quão rudes e abruptos
Tornam-se teus gestos;
E sórdidas atitudes
Afloram, sem controle,
Nem mesmo pudor;
Em teu incontido corpo,
Atormentado, tenso ...
Ao forte pisar,
Tresloucado,
Teus pés ressoam 
Como martelos;
Mas meus passos,
São leves e cautelosos;
Em silêncio temeroso,
Hesitantes, cuidadosos;
Como o quanto se ousa,
Ao pisar em ovos ...

(Ricardo Daiha)

Inspirado na  Sonata nº 15 K 545 (Mozart)


***


SUAVE SINFONIA

Sinto um som ...
um som que vem de longe...
suave, puro, apaixonado...
quase um murmúrio
em meus ouvidos... 
fecho os olhos
a melodia me invade...
doces notas
em acordes 
tocam meu corpo...
posso senti-lo...
vibrante, entregue, lânguido
envolvido num abraço...
minha alma se enleva
num ritmo descompassado...
inevitável a entrega 
em tão suaves acordes 
me desnudo...
me desfaço...
corpo em sinfonia
em mim se revela
vestido de fantasia
docemente eu sou ... ELA.

(Ianê Mello)

Poema inspirado em Mozart (Mozart Violin Concerto in D KV 211 – Andante)

***

Sinfonia nº 40
"...a Música, mesmo nas piores situações, nunca deve agredir aos ouvidos, mas sim cativá-los e continuar sempre Música." 
(Wolfgang Amadeus Mozart)

Olhar num único sentimento

São folhas a cruzar o vento
são pássaros em companhia a voar 
são caminhantes presos em pensamentos
é todo olhar num único sentimento
é sol a passar entre eles
é a chuva torrencial a limpar
é a brisa que incansável dança
são os pés faceiros da criança
são palavras jogadas ao chão e a falar
é todo olhar num único sentimento
sentindo-se põe-se a ouvir, 
música que contagia
contagiando-se chega-se aos dedos
vem abraça-se ao corpo em alegria
acariciando ouvidos atentos
compõe-se então a sinfonia
são folhas, vento e sentimentos
caminhantes, olhar e pensamentos
o sol, a chuva e la vem a brisa
bailando todos, lindos movimentos
nesta música em alegria
nascida de um olhar ... num único sentimento

(Kátia de Souza)

***

Fecundado na alma rebelde

Que revela a fala 
Que cria beleza
Que cria arte
Que unifica
Que ama
... Que anima
Que chora
Que aprende
Que compartilha
Grito alto, desatado
Linhas entrecortam
Paredes ocultas
Que os musicos tocam
Que os poetas abrigam

suas genialidades
Quando exauridos
De dor 
Gritam...
De paixão
Gritam
De alegria
Gritam
Da morte 
Gritam
Da eternidade
Gritam ...
Suas poesias
Rabiscam
Suas notas...

( Leila Onofre)

Inspirado em Mozart Symphony #40 in G Minor, K 550 - 1. Molto Allegro

***


LOUCURA

Só os loucos são generosos!
Só eles sabem dar e receber!
Só eles amam a loucura
E trazem até nós abraços calorosos...
E vêem no fundo do mar, arder,
A âncora da velha sepultura.

Só a loucura vale a pena. 
Só ela não trai as alegrias
Que o silêncio abafou
Depois do amor, dormindo serena,
Com a maré cobrindo de algas fugidias,
Amareladas, como o sono as deixou.
Quero ser louca. Dessa loucura
Que se cola em nós como a resina. 
Quero viver e mastigar devagarinho,
E guardar comigo essa candura
Que os loucos têm, que ilumina,
Essa terna loucura, esse carinho.

(Paula Amaro)

Inspirado na obra Sinfonia nº40 K550 (Primeiro Andamento)

***

*


LOUCURA

Marionete lânguida persuadida
Pelo amor sensual possuída
Afrodite iludida constituída
O desejar de forma suicida

A razão normal já foragida
Reviravolta total na lida
A linha da realidade partida
Acanhada a sentir-se querida

Delirou ser em amor concebida
Midas inverteu a loucura proibida
A viagem ao sol foi obscurecida

No asilo em silêncio enlouquecida
Ainda se banha de lua esquecida
Fatal retrocesso se há insana ida

(Andrea Lizarb)

Obra: Nona Sinfonia
Foto: Marina Colerato

 ***
Ver.so.nata

Dormem meninos profundos
profundo tal sono sem sonhos
Teu sonho sem sono é regra
criada de sonhos e mundos

Arte de saturno e de lua
Lunática tua so.nata
segura este grito fermata
formata o caminho da rua

A rua da rua caminho da lua é tua, garoto
Reclame só clame conclame o ar roto
Teu grito é rito ou mito escroto
Depende do broto

Eu sou a sinfonia da viajosidade
Raposa ancestral ou meia idade
Ver.so.nata baritonal do louco
Silenspectral do suicida rouco

(Dija Darkdija)

Inspirado nas obras dos músicos Raul Seixas e Beethoven

***

São findos os tempos de harpas.
Harpas carecem silêncio.
Já não há mais qualquer silêncio.
Emudeceram-se as harpas.
Não há mais ambiente
às harpas.

São tempos de tímpanos.
Que rufem, então
à pele tesa
Que vibrem e arrebentem,
represas;
Que desmontem torres.

São tempos de trompetes
Que soem, então, aríetes
Que lhes tirem as surdinas.
Que berrem em alerta
campana aberta, estridentes,
à toda irreverência.

Alardem-se as trompas
em quintas-menores
em trítonos diabólicos
arrepiantes e exatos
tocando o fim
dos tempos das harpas...

Esfolem todos os órgãos
em “tutti”, todos os foles
Que vibrem,
em todos os ventos
acordes diminutos,
dilacerantes...

Já são moucos os tempos de harpas...

(Joe Canônico)
Músico: Bethoven "In sonoris silentiosu"
  
***


* SINFONIA *

No violino ardente do teu corpo,

Dedilho músicas, que nem bem ouço,
Reteso cordas, afino a pauta,
Acordo acordes num grito rouco;

Escalo a escala, que em ti me encanta,
E canto um canto que me arrebata,
Depois me calo, como um soneto,
De amor exalto teu instrumento;

Orquestra viva, melodiosa,
Sou teu maestro, e então escrevo,
Em partituras, na tua pele,
A sinfonia do aconchego.

(Ricardo Daiha)

Inspirado na obra Moonlight Sonata ( Ludwig van Beethoven )

*
A sinfonia do amor é tão vibrante
Que nos faz recordar a cada instante
Tantas partituras musicais
E o teu corpo em que me demorei em carícias
Quando de ti, eu recolhi as primícias
Entre suspiros, sustenidos e doces ais

O teu corpo era um instrumento musical
Tão bem disposto em nosso leito nupcial
Que dava vontade de tocar
Pois os acordes e os sons que emitia
Faziam lembra a Ode à Alegria
Que nós dois executava-mos sem parar

E nos compassos que entretanto havia
Compunha-mos com tal vigor a sinfonia
Com andamentos que dá gosto recordar
E no teu corpo ficaram assinaladas as colcheias
Ainda presentes na marca de tuas veias
Que ainda hoje, nós gostamos de tocar

(Joaquim Vale Cruz)

 Diálogo poético com o poema Sinfonia de Ricardo Daiha

*

Partituras escritas
Que sabemos de cor
Que um amor assim
É amor maior,
Poema sem fim.
É estrada aplanada,
Entrega perfeita,
Ternura encontrada
Depois da colheita,
Nesse chão molhado,
Nesse leito ardente,
Corpo transpirado
Dum colo inda quente.

(Paula Amaro)
Diálogo poético com o poema Sinfonia de Ricardo Daiha

***

Nenhum comentário:

Postar um comentário