No período de 12.12.2011 a 18.12.2011, foi realizado o encontro poético no Grupo Grito Criativo em homenagem a Clarice Lispector. Seguem os textos produzidos pelos membros e algumas das citações que foram usadas como inspiração:
"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite." (Clarice Lispector)
"Única em Si"
Força que grita, não cala
se expõe nas situações mais adversas
não tem pressa, mas se da pressa precisar
Ah! não há quem me detenha
Sou o que sou e Vou por onde vou
porque sou única neste Ser a caminhar
Tempestades, ventanias, Sou Eu nos giros da dança
E quem pode temer a noite
se é para descobrir o dia que ela silencia?
Sou esta que abranda o sentimentos
E me coloco na boca do vento a ouvir-me, Só
nas emoções que apenas eu posso ouvir
Única em Si, posso repartir
Não Sendo, não poderei ir ou vir
Muito menos estar contigo
Por isso é no Só que me detenho
A enxergar as belezas que posso Ser
Nas possibilidades do feiura que não quero crer
(Kátia de Souza)
*
"Revelando o que está oculto"
E assim se fazem os versos em reversos
Revelando o que está oculto e ocultando o revelado
Tramas de certos dramas que em nós é de fato ... Certo!
Confessamos sem revelar e nos revelamos no ocultar
Ocultos versos calados e nem a nós confessados
Mas ditos e recontados tantas vezes que nos calar
(Kátia de Souza)
*
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.”
(Clarice Lispector)
"Não sei falar de Amor"
"Revelando o que está oculto"
E assim se fazem os versos em reversos
Revelando o que está oculto e ocultando o revelado
Tramas de certos dramas que em nós é de fato ... Certo!
Confessamos sem revelar e nos revelamos no ocultar
Ocultos versos calados e nem a nós confessados
Mas ditos e recontados tantas vezes que nos calar
(Kátia de Souza)
*
“Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil.”
(Clarice Lispector)
"Não sei falar de Amor"
Queria eu poder falar de amor
Como se este pudesse escorrer
pelos meus dedos manchando
a borda do papel
Sorveria-o todo e dançaria
nas pontas como bailarina
para que em meus pés
eu cantasse essa que seria
só minha alegria de ao
menos uma gota de Amor
vir ao encontro destes modestos
dedos que o tenta decifrá-lo
quando do Nada que Sou ... calo
E em meu silêncio apenas
toco o que dele poderia ser
a resposta piedosa nesta transbordante
sensação de em Mim ... desejá-lo
(Kátia de Souza )
*
Como se este pudesse escorrer
pelos meus dedos manchando
a borda do papel
Sorveria-o todo e dançaria
nas pontas como bailarina
para que em meus pés
eu cantasse essa que seria
só minha alegria de ao
menos uma gota de Amor
vir ao encontro destes modestos
dedos que o tenta decifrá-lo
quando do Nada que Sou ... calo
E em meu silêncio apenas
toco o que dele poderia ser
a resposta piedosa nesta transbordante
sensação de em Mim ... desejá-lo
(Kátia de Souza )
*
(...) O que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto de um modo carinhoso do inacabado, do malfeito, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão. (Clarice Lispector)
"O óbvio não costuma Ser"
O óbvio é tão sem graça
e do insosso já não posso provar
Provei eles todos e terminei atada
à vícios loucos de me normalizar
Gosto do feio e do pouco
do insano que sabe Ser
sem seguir o que lhe dizem
Do desajeitado que atua no erro
se arrepende e É, sem precisar
porque viver é a sua maior vontade
desenlaça-se do óbvio com medo
e vai no seu arrependimento sofrer
chora e grita em sua agoniada Vida
e desajeitadamente cai neste chão
tão normal e aparentemente feliz
E teu cair é tão simples e sem graça
que passa desapercebido pelos
viciados da emoção
Mas, você não passou por mim
porque já não estou atada na normalidade
e Sou junto com Você na tua liberdade
de ser esse Ser que de tão sem graça
faz-me rir e Viver a real Felicidade!
(Kátia de Souza)
*
"Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que nunca podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real, entre nós dois Dificílimo contar: olhei pra vc por uns instantes, tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita..Eu chamo isso de estado agudo de felicidade."
(Clarice Lispector)
"Eu fui ... Sendo, até Você"
Repare no que não se pode ver e sentir
Sinta o que nada foi dito ou escrito
Busque o impossível e imprevisível
E fale no silêncio comigo
Assim sou eu nesta louca ligação
ter sem nada conter e ver
apenas sentir o que Sou em Você
perdi-me Sendo em Você
tão forte era este Ser em Ti
que morri um pouco pra te ver
Unidos estávamos Eu e Você, ali
e era tão perfeito Você e este sentir
Que nada pude dizer sequer lhe tocar
apenas o silêncio havia em mim
e a felicidade imensa por saber ... Te amar
(Kátia de Souza)
*
" O sábado é a rosa da semana" (Clarice Lispector)
O botão promete a rosa
a rosa é apenas um dia
passa a rosa...passa o dia
(Maria de Fátima Monteiro)
*
ESPELHO
OLHANDO-ME NO ESPELHO... ROUBARAM MEU SORRISO;
ESTÁTICOS NO VAZIO, MEUS OLHOS MIRAM-SE A SI PRÓPRIOS.
SÓ AS LÁGRIMAS QUE CAEM SABEM:
FURTARAM MINHA VONTADE...
DE PINTAR OS LÁBIOS, FRASCOS DE PERFUMES QUEBRADOS;
OS QUE MAIS GOSTAVAS QUANDO EM MINHA PELE RESPIRAVAS.
UM ROSTO PORCELANADO RACHÁVA-SE JUNTO AO ESPELHO,
OLHOS MEUS NOS MEUS OLHOS ALVO REFLEXO PARADOS.
ATÉ MESMO AS LÁGRIMAS AO CAIR SEPARAVAM-SE, SABIAM:
NÃO ESTÁS MAIS AO MEU LADO!
MINHA ALEGRIA ROUBADA... MIRÁVA-ME NO ESPELHO...
IGUAL ESTÁVAMOS EM MIL PEDAÇOS DE DORES: RACHADOS!
UM ROSTO QUE NOTÁVA-SE, SEM DORMIR OLHOS QUE NÃO SE FECHAVAM...
SEMBLANTE DESFIGURADO. NÃO ACREDITAR NO DESPREZO SERIA UM PECADO?
EFEITOS DO VERBO AMOR QUE NÃO FORAM CONJUGADOS.
UM SORRISO ROUBADO COM LÁBIOS DE BATOM BORRADOS!
FEBRIL DO MAL DO AMOR, EU E O ESPELHO RACHADOS...
PEQUENAS GRANDES COISAS QUE FAZIA, PARA SEMPRE, Á TEU AGRADO!
RESTOU-ME VER M'ALMA MORRER AOS POUCOS OS PEDAÇOS, PRESA...
NEM SORRISO, NEM OLHOS COM BRILHO, TÃO POUCA VIDA!
EM UM ESPELHO PELA DOR QUEBRADO DENTRO DELE E...
DELE DENTRO MINHA IMAGEM REFLETIDA!
(Jaqueline Lopes)
FOTO DE.: ***Jaqueline Lopes***
*
CLARICE NO SOFÁ
Tua renda labirinto
Clarice fuma no sofá
A toalhinha de chá
bastante antiga
repete a fumaça
que sobe com rendas
Tal um pequeno bordado
A cantoria do linho
Fica antiga
Fica nova
Fica antiga
Fica nova
Esta toalhinha de chá se foi com a fumaça
Mas as tuas letras ficaram aqui
Eternizando-se em outros bordados.
(Beto Palaio)
*
"Porque há o direto ao grito.
Então eu grito." (Clarice Lispector)
Ecoa no tempo
Os Gritos de Clarice
O vento espalhou
(Ildo Silva)
*
::: viúva negra :::
psiu!
cala-se. que ao amor não cabem palavras.
escuta o que dizem as ondas que emano...
não é nada.
elas ondulam, e só.
tecem.
enreda-se,
vem.
lá fora fazem tanto barulho.
na cabeça um oco tamanho,
sem fim.
rouco.
o vermelho do muro de pedra se faz reparar.
grita cores.
não cabe lhe dar atenção.
quase nada cabe em minha teia.
quase, o nada cabe em mim.
salvo o querer.
e aquele a quem convido.
a salvo, ninguém.
morte anunciada e lenta.
e minha também.
o dia que mato,
em mim,
morro .
mas tenho instinto... não fujo.
não foges, vem.
hás de querer morrer na rede das minhas noites,
no seio dos meus pendores.
machuco a quem merece.
só a quem...
cala-se,
ardor. não cabem palavras.
(Paula Quinaud)
(Imagem: homenagem de Luis Fabiano Teixeira a Clarice Lispector)
*
Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e [agora] sono.
(Clarice Lispector )
GRITO CALADA DE REVOLTA SEM VOCÊ.
Meus braços são nada sem os seus. Antes, recheados, ledos de ternura. Não é qualquer abraço que me preenchia assim, um misto de ternura - no início - a seguir esquentava uma volição crepitante como madeira verde na lareira. Lembro-me como se fosse neste segundo. Você pegou-me pelas beiras, a roçar meu pescoço, emaranhou meus cabelos prisioneira. Mirava de esguelha seus olhos apetecidos a namorar-me no grande espelho. Tragava-me toda. Eu ria de você assim. No entanto, em silêncio para não assustar sua inquirição. Que saudades de seu riso espaçoso! Boca enorme a fazer-me mergulhar em sonhos tão luminosos de moleques, a discorrer tanta criancice. Ríamos de nada e por tudo.
Sentava-me nua ao seu lado a ambicionar, pura ironia, suas canções escutar. Recitava-me poesias. Eu até esquecia o quanto te queria aquela horinha, ali mesmo.
Nossos corpos faziam amor. O amor estava em nós. Eles podem descrever o nosso fazer amor. Só eles juntinhos tinham condimento na medida certa de tornar diferente o que todo mundo faz igual.
O sabor ia se apurando até a preguiça nos domar e o sono chegar...
(Andrea Lizarb)
*
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro. (Clarice Lispector)
D(e)feitos
E é assim,
Portanto e conquanto que grito
E repito...
E Faço que penso...
E Tento ser o que acho que sou...
E às vezes o que eu quero ser...
Um desses, seres ou não seres
Me sustentará...
Sim...
Sustentará...
E quando não sustentar
Vou cair...
Tal qual a p
É
T
A
L
A
que cai da rosa...
Mas que quando chega ao chão vira adubo...
E começa a crescer de novo...
Pois é...
Hoje meu grito é assim...
Vou gritar para descobrir os d(e)feitos que me sustentam
Viva à Clarisse...
(Vanessa Vieira)
*
Poetas que somos, em nossos versos expurgamos a dor, numa catarse.
E que bem faz esse dilúvio de emoções contidas, represadas pelo silêncio.
(Ianê Mello)
*
POEMA....EXPRESSÃO DA ALMA
Quando se escreve com a alma
com as vísceras
o poema é puro sentir
Não importa a técnica
a rima, a exata construção
O que importa é a emoção que vibra
Vou cair...
Tal qual a p
É
T
A
L
A
que cai da rosa...
Mas que quando chega ao chão vira adubo...
E começa a crescer de novo...
Pois é...
Hoje meu grito é assim...
Vou gritar para descobrir os d(e)feitos que me sustentam
Viva à Clarisse...
(Vanessa Vieira)
*
Poetas que somos, em nossos versos expurgamos a dor, numa catarse.
E que bem faz esse dilúvio de emoções contidas, represadas pelo silêncio.
(Ianê Mello)
*
POEMA....EXPRESSÃO DA ALMA
Quando se escreve com a alma
com as vísceras
o poema é puro sentir
Não importa a técnica
a rima, a exata construção
O que importa é a emoção que vibra
É catarse da alma
é sentimento que aflora
de dentro pra fora
colorindo em linhas
o branco e pálido papel
dando-lhe vida
E assim é belo
por sua crueza
Sensibilidade expressa
à flor da pele.
Não há que julgá-lo
Se bom ou ruim
Não há que decifrá-lo
Há, apenas, que sentí-lo...
(Ianê Mello)
*
"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. "
(Clarice Lispector)
A Dor da Criação
é sentimento que aflora
de dentro pra fora
colorindo em linhas
o branco e pálido papel
dando-lhe vida
E assim é belo
por sua crueza
Sensibilidade expressa
à flor da pele.
Não há que julgá-lo
Se bom ou ruim
Não há que decifrá-lo
Há, apenas, que sentí-lo...
(Ianê Mello)
*
"Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas. "
(Clarice Lispector)
A Dor da Criação
A palavra é a arma do poeta
e a dor sua inspiração
dela os versos se fazem puros
numa catarse de sentimentos
num transbordamento de emoção
Brotam de sua alma flores de sangue
que escorrem em pétalas no papel
e a palavra se faz verbo
rasgando do rosto o véu
Ianê Mello
*
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." (Clarice Lispector)
Sentir Poético
Escrever é rasgar os véus
Desvendar mistérios ocultos em minh'alma
Desnudar-me de qualquer roupagem
Num livre processo de criação
Ficar nua, alma limpa, exposta
Entregue à fonte que inspira
As palavras a fluirem no branco papel
Linhas do meu interno
Meu mais profundo êxtase
Onde encontro várias faces
E como minhas as reconheço
Próprias de um ser multifacetado
Escrever é transpor fronteiras
Desvelar sentimentos ocultos
Enxergar-me por dentro...
Minha lucidez, minha loucura
Na força da poesia encontro
Alento ao meu intenso sentir
Expressão pura do meu silêncio
No verbo que ganha vida
(Ianê Mello)
*
"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso." (Clarice Lispector)
ENTRELINHAS
Não fico na escuta...
Nem tudo é resposta
Minha busca não carece nossa
Meu dia já tem mais festa
O tempo faz vista grossa
Não tem pressa onde chegar
Uma vez mais eu sei
Sou tão longe de você.
(Andrea Lizarb)
*
Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. (Clarice Lispector )
SONHOS SÃO FEITOS PARA VOAR
Passeio a arrastar meus sonhos sobre o chão de concreto.
Ao longo, ventos frios assoviam das fissuras do tempo.
Confabulam a rirem de minha efêmera figura.
Em minhas mãos pesam encharcadas as estrelas caídas, sem brilho.
Escuto o barulho do silêncio; ao longe os sussurros.
Fotos-vivas, sem eira, retrocedem letargicamente.
Quando passam, tocam as folhas secas que caem em minha face.
Penso em ti. Falto de ti.
Desato o vazio.
Os nós do esforço desgrudam.
Te abraço éter-terna-mente
Os sonhos são livres.
São feitos para voar.
(Andrea Lizarb)
*
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(Clarice Lispector)
PORQUE HÁ O DIREITO AO GRITO. ENTÃO EU GRITO! (Clarice Lispector)
SAUDADE
Saudade é tentar esquecer o que infesta, tentar exorcizar.
É aquilo que o coração molesta, persiste recordar.
Saudade é saber triste que o amado, sem se opor, partiu,
Largou a mala de amor entreaberta a dizer pela fresta: psiu!
Saudade é perder a graça de toda festa que achara.
É saber que não existe, mas teima que nem criança.
Saudade, doença de quem ama, a cava sem esperança:
Ao ver uma foto, ouvir um oi, crer que despertara.
Saudade é o paraíso ao contrário preciso do que sonhara.
É rolar na cama, com a agonia acordar de sobreaviso.
Lembrar do sorriso indiviso que antes dava viço...
Saudade é não admitir que como mágica se perdeu
o sabor do tempero, o cheiro por inteiro, nada vocalizo.
Saudade é o gosto de morte aceiro na boca de quem sofreu.
(Andrea Lizarb)
*
e a dor sua inspiração
dela os versos se fazem puros
numa catarse de sentimentos
num transbordamento de emoção
Brotam de sua alma flores de sangue
que escorrem em pétalas no papel
e a palavra se faz verbo
rasgando do rosto o véu
Ianê Mello
*
"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." (Clarice Lispector)
Sentir Poético
Escrever é rasgar os véus
Desvendar mistérios ocultos em minh'alma
Desnudar-me de qualquer roupagem
Num livre processo de criação
Ficar nua, alma limpa, exposta
Entregue à fonte que inspira
As palavras a fluirem no branco papel
Linhas do meu interno
Meu mais profundo êxtase
Onde encontro várias faces
E como minhas as reconheço
Próprias de um ser multifacetado
Escrever é transpor fronteiras
Desvelar sentimentos ocultos
Enxergar-me por dentro...
Minha lucidez, minha loucura
Na força da poesia encontro
Alento ao meu intenso sentir
Expressão pura do meu silêncio
No verbo que ganha vida
(Ianê Mello)
*
"Ouve-me, ouve o meu silêncio. O que falo nunca é o que falo e sim outra coisa. Capta essa outra coisa de que na verdade falo porque eu mesma não posso." (Clarice Lispector)
ENTRELINHAS
Não fico na escuta...
Nem tudo é resposta
Minha busca não carece nossa
Meu dia já tem mais festa
O tempo faz vista grossa
Não tem pressa onde chegar
Uma vez mais eu sei
Sou tão longe de você.
(Andrea Lizarb)
*
Há momentos na vida em que sentimos tanto a falta de alguém que o que mais queremos é tirar essa pessoa de nossos sonhos e abraçá-la. (Clarice Lispector )
SONHOS SÃO FEITOS PARA VOAR
Passeio a arrastar meus sonhos sobre o chão de concreto.
Ao longo, ventos frios assoviam das fissuras do tempo.
Confabulam a rirem de minha efêmera figura.
Em minhas mãos pesam encharcadas as estrelas caídas, sem brilho.
Escuto o barulho do silêncio; ao longe os sussurros.
Fotos-vivas, sem eira, retrocedem letargicamente.
Quando passam, tocam as folhas secas que caem em minha face.
Penso em ti. Falto de ti.
Desato o vazio.
Os nós do esforço desgrudam.
Te abraço éter-terna-mente
Os sonhos são livres.
São feitos para voar.
(Andrea Lizarb)
*
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
(Clarice Lispector)
PORQUE HÁ O DIREITO AO GRITO. ENTÃO EU GRITO! (Clarice Lispector)
SAUDADE
Saudade é tentar esquecer o que infesta, tentar exorcizar.
É aquilo que o coração molesta, persiste recordar.
Saudade é saber triste que o amado, sem se opor, partiu,
Largou a mala de amor entreaberta a dizer pela fresta: psiu!
Saudade é perder a graça de toda festa que achara.
É saber que não existe, mas teima que nem criança.
Saudade, doença de quem ama, a cava sem esperança:
Ao ver uma foto, ouvir um oi, crer que despertara.
Saudade é o paraíso ao contrário preciso do que sonhara.
É rolar na cama, com a agonia acordar de sobreaviso.
Lembrar do sorriso indiviso que antes dava viço...
Saudade é não admitir que como mágica se perdeu
o sabor do tempero, o cheiro por inteiro, nada vocalizo.
Saudade é o gosto de morte aceiro na boca de quem sofreu.
(Andrea Lizarb)
*
Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e [agora] sono.
Clarice Lispector
Clarice Lispector
GRITO CALADA DE REVOLTA SEM VOCÊ.
Meus braços são nada sem os seus. Antes, recheados, ledos de ternura. Não é qualquer abraço que me preenchia assim, um misto de ternura - no início - a seguir esquentava uma volição crepitante como madeira verde na lareira. Lembro-me como se fosse neste segundo. Você pegou-me pelas beiras, a roçar meu pescoço, emaranhou meus cabelos prisioneira. Mirava de esguelha seus olhos apetecidos a namorar-me no grande espelho. Tragava-me toda. Eu ria de você assim. No entanto, em silêncio para não assustar sua inquirição. Que saudades de seu riso espaçoso! Boca enorme a fazer-me mergulhar em sonhos tão luminosos de moleques, a discorrer tanta criancice. Ríamos de nada e por tudo.
Sentava-me nua ao seu lado a ambicionar, pura ironia, suas canções escutar. Recitava-me poesias. Eu até esquecia o quanto te queria aquela horinha, ali mesmo.
Nossos corpos faziam amor.
O amor estava em nós. Eles podem descrever o nosso fazer amor. Só eles juntinhos tinham condimento na medida certa de tornar diferente o que todo mundo faz igual.
O sabor ia se apurando até a preguiça nos domar e o sono chegar...
(Andrea Lizarb)
*
Não quero nos meus escritos entrelinhas
Que possam alterar-me o pensamento
Quero lá só palavras que são minhas
Por forma a expressar meu sentimento
(Joaquim Vale Cruz )
*
O sabor ia se apurando até a preguiça nos domar e o sono chegar...
(Andrea Lizarb)
*
Não quero nos meus escritos entrelinhas
Que possam alterar-me o pensamento
Quero lá só palavras que são minhas
Por forma a expressar meu sentimento
(Joaquim Vale Cruz )
*
Eu sou como você me vê
Avesso a qualquer fantasia
Como a sina que se lê
Que não responde ao porquê
E nos leva a alegria
Mas quando me vê passar
Nos braços da fantasia
Posso ser leve como a brisa
Como o conselho que avisa
Ou forte como a ventania
(Joaquim Vale Cruz )
*
(Para Clarice Lispector, que muito nos ensina sobre "dor")
É uma dor que vadia
Até pensei em doá-la,
como esta alma que delata
e este corpo de dilacera
Mas, tive outra ideia:
resolvi inflá-la!
Invadida com ar,
leve,
vaidosa,
benzida vai voar,
e depois…
rebentar
(Hosamis Ramos de Pádua )
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